[OLPC Brasil] Projeto UCA: suspeitas de tramóia!
Denise Vilardo
dvilardo at gmail.com
Wed May 6 20:48:13 EDT 2009
Olá, Jaime
obrigada por ter compreendido a minha mensagem.
Obrigada pela paciência de se deter para explicitar melhor a sua opinião
para todos nós. Os argumentos ficaram claros.
Você sabe tão bem o quanto nos custa 'matar um leão por dia' para fazer as
coisas acontecerem. Brigamos com a 'máquina' em tempo integral, mas não
podemos perder de vista que somos pessoas de fazer, de realizar, e que
também fazemos parte da 'máquina'. Por isso sou muito cautelosa e não gosto
muito de colocar as coisas em termos de nós X eles.
Te agradeço também porque você é uma pessoa comprometida pra caramba e que
só tem ajudado a todos nós, todo o tempo, com a sua colaboração incansável,
suas explicações e críticas.
um abraço
*Denise Vilardo*
2009/5/1 Jaime Balbino <jaimebalb at gmail.com>
> Profa. Denise,
>
> Concordo com você quando diz que a rejeição do Mobilis nos testes é
> uma demonstração de que a "máquina pública" está funcionando. Neste
> caso específico esta não é uma ação do governo, que é o interessado na
> compra, a boa burocracia vem da estrutura estatal que possui
> mecanismos independentes que seguem regras e são fiscalizadas. Esta
> estrutura garantiria um processo honesto e, acreditem, não existe em
> sua plenitude na maioria dos nossos vizinhos. Além de ter atingido a
> maturidade no Brasil apenas nos últimos anos.
>
> Porém, um presidente ou governador ou prefeito no Brasil tem somente 4
> anos de mandato. Diante dessa realidade constitucional como é possível
> levar adiante projetos complexos se não há prazos para as decisões
> burocráticas e judiciais? Um ministro do TCU levou 4 meses para
> decidir deixar a licitação prosseguir. Antes disso tivemos quase 1 ano
> de espera desde o cancelamento do primeiro pregão, com a desculpa de
> que o edital seria melhor escrito (e que acabou questionado no TCU).
> Depois da liberação levou-se 40 dias nos testes de aderência e a
> consequente rejeição do Mobilis.
>
> Agora, se a Comsat ou algum outro concorrente questionar o resultado
> nos tribunais, teremos meses ou anos de paralisia...
>
> Pode-se argumentar que um projeto não pode ser deste ou daquele
> governo e que a alternância de poder não pode eliminar as boas
> iniciativas. Isso é verdade quando os projetos estão implementados ou
> ao menos bem encaminhados, quando eles nem sequer existem e, ainda por
> cima, colecionam fracassos de tramitação e polêmicas a tendência é não
> serem reaproveitados mesmo.
>
> O Uruguai é bem menor que o Brasil? Correto. Mas seu projeto nacional
> já é bem maior do que teria sido o piloto do UCA. Mas não é só uma
> questão de tamanho. Talvez a estrutura fiscalizadora do Uruguai não
> esteja tão bem organizada quanto a brasileira, quem sabe por lá a
> simples vontade do seu presidente baste para comprar 500 mil laptops
> educacionais. O ponto central aí é que lá, como em outros países, o
> tempo e o dinheiro tem sido gastos para fazer avançar o que se conhece
> sobre o ensino com laptops. Nem preciso dizer no que estamos
> investindo nosso tempo e dinheiro aqui no Brasil...
>
> Ainda há um agravante no caso brasileiro: enquanto o Uruguai, por
> exemplo, não precisou discutir a fabricação local dos laptops, por não
> ter uma tradição industrial, o Brasil trouxe essa polêmica para o
> centro do processo de compra. Tudo bem, mas que empresa brasileira
> pode inovar nesta área tendo que esperar mais de 2 anos pelo fim de
> uma licitação que pode ser cancelada, suspensa e refeita inúmeras
> vezes? O próprio Mobilis é um exemplo desse dilema: foram uns 3 anos
> de desenvolvimento sem grandes incentivos estatais e particulares que
> agora irão para o limbo depois da reprovação nos testes do UCA, já que
> a empresa nunca teve condições de financiar a venda do produto no
> varejo.
>
> (Isso não quer dizer que a reprovação não foi merecida. Nunca tive um
> destes novos Mobilis na mão, nem os vi e também jamais poderia atestar
> sua qualidade melhor do que faria o MEC. O relatório do pregoeiro deve
> trazer claramente os motivos da reprovação, mas não duvido que seu
> fabricante recorra da decisão para garantir a própria sobrevivência e
> o investimento.)
>
> Não sou contra a burocracia e os recursos judiciais. Mas a equação
> está errada. O tempo que se leva para tomar uma decisão tecnocrática
> inviabiliza o projeto em si, quando não o pasteuriza, retirando da
> disputa projetos alternativos e realmente inovadores em benefício de
> tecnologias já estabelecidas (para outras realidades) e até
> carterizadas.
>
> Termino com um discurso do Presidente Lula feito neste 30 de abril no
> Rio de Janeiro. Aqui ele desenha a realidade dispare entre a
> necessidade de avançar e os caminhos pedregosos e tortuosos impostos
> pelo próprio Estado de Direito brasileiro:
>
> "Lula critica burocracia para aprovar investimentos
>
> De Lula ao participar da inauguração de um novo laboratório na Coppe/UFRJ:
>
> - Você me contou do Tribunal de Contas, eu não vou nem te contar da
> perereca e do viaduto porque... É o seguinte: o país passou mais de 25
> anos sem investimento e sem nada porque nós fomos criando uma poderosa
> máquina de fiscalização que agora é superior à máquina da produção. Se
> você pegar uma instituição como Caixa Econômica Federal, como o Banco
> do Brasil e o BNDES, agora, há algum tempo, é que a máquina voltou a
> investir. O BNDES, que é um banco que é um modelo de exemplo para nós
> e de orgulho, como a Petrobras, passou parte do seu tempo aprendendo a
> sanear empresa para ser privatizada e desaprendeu a discutir
> investimento. Eu lembro que uma vez eu perguntei para um cidadão:
> quanto tempo você leva entre receber um projeto e aprovar um projeto?
> (Eram) 265 dias. Não é possível.
>
> - Qual era a minha preocupação? No Brasil não basta você ter o
> dinheiro. Porque com a quantidade de regras que nós criamos para
> dificultar a utilização do dinheiro, às vezes, você vê a galinha
> cantando, pensa que ela botou o ovo e ela não bota o ovo nunca.
>
> - Juscelino Kubitschek, se fosse eleito presidente e quisesse fazer
> Brasília hoje, ia terminar o mandato dele sem conseguir a licença para
> fazer a pista para descer o piloto para começar a estudar o Planalto
> Central."
>
>
>
> Jaime Balbino
> Learning Designer
> Consultor em Automação do Ensino
>
>
>
>
>
> > 2009/4/30 Denise Vilardo <dvilardo at gmail.com>:
> >> Olá a todos,
> >>
> >> Se, a partir das denúncias feitas (verdadeiras ou não), o governo não
> >> tomasse atitude alguma, ele seria tachado de omisso. Se para tudo pra
> >> averiguar, é porque quer emperrar o processo...
> >>
> >> Não estou defendendo a lerdeza dos caminhos burocráticos, porque eles,
> >> certamente, mais atrapalham do que ajudam. E também compreendo que todos
> nós
> >> estamos aguardando ansiosamente a chegada dos laptops às escolas.
> >>
> >> Mas continuo acreditando, talvez ingenuamente, que ações dessa natureza
> e
> >> dimensão exigem muito cuidado, seriedade e responsabilidade.
> >>
> >> Sabemos que por trás de tudo existe uma guerra industrial, que não está
> >> começando agora, e esse me parece mais um bom motivo para que se
> investigue
> >> o que está realmente acontecendo.
> >>
> >> Prefiro aguardar, porque também não acredito em bonzinhos X mauzinhos.
> As
> >> instituições existem, mas não são entidades etéreas; são constituídas
> por
> >> pessoas também dignas - podem acreditar - e que lutam diariamente para
> que
> >> as coisas funcionem e deem certo.
> >>
> >> Dessa lista mesmo participam pessoas altamente comprometidas com o
> Projeto e
> >> com vasta experiência de trabalho no setor público, portanto, sabem bem
> do
> >> que estou falando.
> >>
> >> E, por favor... O Uruguai inteiro tem cerca de 176.215 km², e uma
> população
> >> estimada em 3,39 milhões. Só o Estado de São Paulo tem 248.209,23 km²...
> a
> >> Cidade do Rio de Janeiro tem mais de 6 milhões de habitantes... O que é
> >> mesmo que estamos comparando?
> >>
> >> E, também, creio que não dá pra acreditarmos que nos outros países tudo
> >> funcione maravilhosamente bem e que não existam os problemas semelhantes
> aos
> >> daqui. Vocês sabem melhor do que eu que não é assim que as coisas
> acontecem.
> >>
> >> Esse é o nosso país, com todos os contextos histórico-sociais que
> >> rechaçamos. É aqui, no meio de todos os desacertos, descompassos,
> >> desafinações que temos a obrigação de fazer melhor. É compromisso dos
> que
> >> tiveram e ainda teem o privilégio de poder estudar, viver dignamente e
> estar
> >> aqui, por exemplo, participando dessa lista, como acadêmicos,
> intelectuais e
> >> profissionais bem sucedidos.
> >>
> >> Creio que contribuiremos mais se conseguirmos articular e ampliar essa
> rede
> >> de pessoas interessadas em discutir esse assunto, com idéias e propostas
> >> para ajudar na implementação do Programa.
> >>
> >> um abraço
> >>
> >> Denise Vilardo
> >>
> >>
> >>
> >>
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