[OLPC Brasil] Sugar, Software Livre e Educação: afinal qual o papel da OLPC?

Tomeu Vizoso tomeu at tomeuvizoso.net
Tue Jun 24 05:55:32 EDT 2008


Oi Juliano,

em linhas gerais, concordo comtigo, seguem alguns comentarios:

2008/6/24 Juliano Bittencourt <juliano at lec.ufrgs.br>:
>       Nos útlimos meses tenho presenciado nesta lista várias
> discussões de colegas sobre a questão do Windows XP rodando no XO, da
> saída do Walter Bender da OLPC e do surgimento do SugarLabs. Acho toda
> a discussão importante para refletirmos profundamente acerca destes
> fatos e das questões que levantam e por isso tenho me colocado como
> espectador atento de todo esse processo. Entretanto vi nos últimos
> tempos o surgimento de alguns argumentos que particularmente considero
> preocupantes.  Também tenho visto uma depreciação da imagem da OLPC
> baseada muito mais em falta de compreensão e diálogo do que em fatos.

Concordo, mas espero que tu tambem concordes comigo em que a OLPC nao
tem comunicado muito bem ate agora. Confio em que nos proximos meses
vai acontecer um esforco de melhorar o dialogo com a comunidade.

>        A primeira grande falácia que tenho ouvido repetidas vezes é
> que agora (após a versão do Windows XP para o XO) o que importa é o
> Sugar e não mais o XO. Por mais que eu goste do Sugar, desde de quando
> criar um laptop de baixo custo, baixo consumo de energia e
> conectividade mesmo sem Internet deixou de ser uma boa idéia? O XO é
> significativamente mais sofisticado que os outros laptops que se
> propõe a concorrer com ele, e o seu esforço de engenharia não foi
> colocado apenas em minituarização, mas principalmente em fazê-lo
> funcionar em condições onde nenhum outro funciona. Por exemplo, em
> Ruanda 99% das escola primárias não tem eletricidade. Neste tipo de
> cenário qualquer um dos concorrentes do XO funcionaria? Mesmo no
> Brasil,  11% das escolas públicas da Amazônia Legal não tem
> eletricidade.  Antes mesmo da primeira linha de código ser executada,
> é necessário existir uma máquina viável, tanto economicamente quando
> tecnicamente considerando os contextos que ela se propõe a atender.

Nao tenho certeza de ter ouvido que o que o unico que importa e o
Sugar. O que acontece e que o Sugar e um projecto em que qualquer
pessoa pode colaborar, em quanto que fazer uma maquina requer de uma
maneira de trabalhar diferente. Em outras palavras: sabemos como
desenvolver software de maneira totalmente aberta e inclusiva, mas hw?

Se voluntarios a minha volta mostran-se frustrados pela maneira como
OLPC tem comunicado certas coisas, e eu nao posso clarificar nada
porque tenho a mesma (confusa) informacao, que posso fazer? Pedir a
gente que mantenham uma fe cega na OLPC?

Escolhimos diferenciar Sugar da OLPC, de maneira que as pessoas possam
contribuir a um projecto com a confianza de que o fruto do seu esforco
nao vai depender de negociacoes a portas fechadas em Boston ou
Redmond. E e claro que a OLPC percebe que Sugar tem que ser un
projecto independente, eles nao querem estar a manter sozinhos esse
software para sempre.

>         O segundo equívoco que tenho observado é a idéia de que o
> acesso a um software inovador por si próprio garantirá uma revolução
> na educação. Bem, essa é uma equívoco que muitas das pessoas mais
> geniais que trabalharam na área cometeram no passado, e que gostaria
> de não ver repetido. No início da reflexão sobre informática na
> educação, pensou-se que o simples acesso do LOGO garantiria uma
> restruturação da escola. Na realidade o que aconteceu foi a escola
> assimilando o computador no laboratório de informática e substituindo
> os usos inovadores do LOGO por aulas de LOGO. Depois, substituindo as
> aulas de LOGO por aulas de computador, então nada remanescendo das
> idéias originais sobre computadores e aprendizagem. Pensar que por
> mais genial que o Sugar seja, que ele vai revolucionar a educação por
> si só é no mínimo um equívoco. Ele é apenas uma parte de um projeto
> maior e devemos tomar cuidado com a forma que usamos o termo "é um
> projeto educacional". Já presenciei ele sendo utilizado de formas
> muito "mundanas" como em "aulas de sugar". Se não existir esforço em
> inserir novas idéias acerca da aprendizagem e como os computadores
> podem auxiliar nesse processo, ele não passará muito mais disso.

Concordo totalmente.

>         Outro ponto relacionado a isso é julgar que o sugar é o novo
> representante legítimo do construcionismo de Papert. O constucionismo
> é uma proposta pedagógica para o uso do computador na educação e não
> uma especificação de software. Muitas pessoas, inclusive nós aqui no
> LEC, buscamos utilizar o computador dentro de uma proposta
> construcionista muito antes da discussão sobre software livre começar
> a surgir. Para isso utilizamos primeiro os MSX e depois PCs rodando
> Windows. Para ser franco, por mais que nos posicionemos a favor do uso
> de Linux nas escolas, ainda é bastante difícil encontrar softwares
> livres educacionais com qualidade para apoiar práticas construtivistas
> e a implantação do Linux nas escolas públicas brasileiras tem sido até
> então, no mínimo difícil. Por isso tomemos cuidado ao dizer que o
> Sugar é o novo monumento ao construcionismo e quem não usa ele (ou
> quem usa software proprietário) não está sendo construcionista. Papert
> quando desenvolveu o construcionismo não utilizou software livre.

Concordo, nao ha muito que expliquei em IAEP que eu nao vejo o Sugar
como um ambiente so para criancas, nem so para paises em
desenvolvimento, nem so para "suportar o construccionismo". O meu
objetivo e desenvolver um ambiente grafico que facilite o acesso a
leitura, a simulacao, a expressao, a colaboracao, etc. Espero que
sejam outros os que se preocupem de utilizar estas ferramentas da
melhor maneira.

http://lists.lo-res.org/mailman/listinfo/its.an.education.project

>        Nessa altura muitos devem estar pensando que eu sou contra o
> Sugar e o software livre! Muito pelo contrário. Dediquei muitos anos
> da minha vida ao trabalho com Linux dentro das escolas públicas e
> particularmente acho o Sugar umas das coisas mais legais que se
> inventou na área de software nos últimos tempos. Mas usando uma idéia
> de Paulo Freire (já que falamos de educação) que gosto muito, devemos
> distinguir a militancia  cega do pensamento crítico. No caso evitar a
> militancia é pararmos de olharmos para o nosso próprio umbigo e termos
> atitudes colonialistas nos intitulando "herórios/salvadores das
> criancinhas do país X" pq desenvolvemos o sugar, e termos pensamento
> crítico é sermos capazes olharmos para os nosso próprios problemas e
> falhas, aprendermos com eles, e nos re-estruturarmos mais fortes. Por
> exemplo, por mais que defenda o software livre nas escolas públicas,
> sei das muitas dificuldades que isso traz para os professores, e acho
> que a solução não é negar as dificuldades mas sim trabalhar para
> soluciona-las.

Concordo.

>       Nesta linha de pensamento, volto ao ponto que gerou toda essa
> polêmica que foi o Windows XP sendo portado para o XO. E aqui ouso a
> pensar que  faço mais um alerta. Se um país decide que o melhor para
> educação de suas crianças é utilizar Windows XP, quem somos nós para
> dizermos que não? Não estaríamos sendo contraditórios em dizer que as
> pessoas tem *liberdade* de escolha desde de que façam as escolhas que
> nós julgamos corretas? Se o movimento do Software Livre representa na
> sociedade moderna um movimento pela liberdade, devemos respeitar
> aqueles que não desejam se juntar a nós. Discutir, tentar influenciar,
> abrir possibilidades, trazer novas idéias: sempre. Impor, nunca!!!
> Justamente pela OLPC ser um projeto de educação, seria correto ela
> negar as crianças de uma determinada nação acesso aos seus laptops (e
> dentro da sua lógica a possibilidade de uma educação melhor) só porque
> os políticos decidiram que querem Windows nas máquinas?

Aqui e que eu vejo um equivoco ;) Os paises tem liberdade de escolher
o software que desejem, mas as pessoas tambem temos a liberdade de
opinar sobre essa escolha, e sobre tudo de decidir se vamos a dedicar
o nosso tempo num esforco ou nao. Quem tem estado a tentar impor nada
a pais algum? Alguem tem proposto tomar um Parlamento ou Congresso
pelas armas?

>        No Brasil, uma das coisas que mais admiro é como o movimento
> de Software Livre conseguiu com muita habilidade atingir as esferas
> mais altas do governo. Sem imposição, mas com conscientização. Ao
> invés de simplesmente negarmos aos outros países laptop com Windows,
> devemos trabalhar com as pessoas daquele país para ver como é possível
> influenciarmos as idéias de seus governantes.

Certamente, lembra-me uma palestra que ouvi uns messes atras sobre
como a gente do SkoleLinux tem introduzido linux e software livre nas
escolas da Dinamarca.

>       Por fim, gostaria de dizer que acredito que a maior parte das
> críticas a OLPC que tenho visto aqui são, no mínimo, injustas. A OLPC
> continua não só apoiando mas também patrocinando o Sugar, considerando
> que a maior parte dos desenvolvedores são funcionários ou consultores
> da OLPC. Se esta tirasse o seu apoio financeiro ao projeto, poderíamos
> no mínimo lançar dúvidas sobre a sua continuidade. Nessa mesma idéia,
> se a OLPC fechasse amanhã, poderíamos lançar também dúvidas sobre a
> disposição das empresas em criar laptops de baixo custo para educação,
> os quais canibalizam suas margens de lucro.

Mais um equivoco, desde quando os projectos mais importantes tem que
receber menos criticas? Sempre que as criticas sao constructivas e
procurem melhorar o entendimento comum, porque as vamos calar?

>        Por fim, dizer que o foco agora é o Sugar e não a OLPC é como
> dizer que o importante é o piano e não os pianistas.

Certamente. Agora, o que eu percebi e que um individuo exprimiu a sua
decisao de dedicar o seu tempo ao Sugar e nao ao OLPC. Qual e o
problema com isso? Certamente, OLPC vai ganhar tambem em quanto
continue a utilizar Sugar.

>       Peço desculpas antecipadamente se ofendo alguém, mas achei
> importante compartilhar esses pensamentos com o grupo.

Muito obrigado pela tua sinceridade e claridade de exposicao.

Abracos,

Tomeu


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