[OLPC Brasil] Sugar, Software Livre e Educação: afinal qual o papel da OLPC?

Paulo Drummond ptdrumm at terra.com.br
Tue Jun 24 01:41:08 EDT 2008


Caro José Antônio,

Discordo veementemente da sua afirmação que o Logo só serve para  
aprender Logo e lógica de programação. Se você realmente esta  
convicto disso, você não sabe o que é o Logo. Menos ainda, presumo,  
sobre seus sucedâneos, como Etoys (Squeak/).

Além disso, Logo é INCOMPARÁVEL ao Sugar. Bananas com balaios de palha.

Novamente... TCP/IP, email e web. Sem contar o 'etc', o primeiro é um  
conjunto de protocolos (ou regras, se preferir), o segundo é um  
serviço (ou sistema, se preferir) de transporte de mensagens e o  
terceiro é um sistema, baseado na implementação de várias coisas  
(protocolos, sistemas, linguagem, serviços...). Plataforma é algo que  
está se tornando cada vez mais nebuloso definir, mas nenhum dos três  
(tecnicamente) jamais o foi.

Novamente... Sugar e Squeak; bangalôs e botox.

Discordo de quase tudo o mais que você escreveu, mas a lista é longa  
e muito cansativa.

Paulo
On Jun 24, 2008, at 1:02 AM, José Antonio Rocha wrote:

> 2008/6/23 Juliano Bittencourt <juliano at lec.ufrgs.br>:
> >
> >       Caros colegas,
> >
> >       Nos útlimos meses tenho presenciado nesta lista várias
> > discussões de colegas sobre a questão do Windows XP rodando no  
> XO, da
> > saída do Walter Bender da OLPC e do surgimento do SugarLabs.
>
> [...]
>
> > ... dizer que o foco agora é o Sugar e não a OLPC é como
> > dizer que o importante é o piano e não os pianistas.
> >
> >       Peço desculpas antecipadamente se ofendo alguém, mas achei
> > importante compartilhar esses pensamentos com o grupo.
>
> De maneira alguma é ofensa, Juliano. São considerações importantes.
>
> Quando se faz (como eu, por exemplo) a afirmação de que o foco da  
> inclusão digital escolar se desloca para o Sugar, deve-se  
> considerar este cenário:
>
> 1. O OLPC XO não ganhará todas as concorrências (leilões de compras  
> estatais) em todos os países, como não ganhou no Brasil. Mesmo se o  
> XO fosse o único concorrente, o fabricante não teria condições  
> físicas de produzir uma quantidade imensa de XO para todos os  
> paises. Haverá necessariamente uma mistura de dispositivos nas  
> escolas.
>
> 2. Se é certo que haverá uma mistura de equipamentos, é enorme  
> também a chance de haver uma mistura de sistemas educacionais  
> envolvidos, tipo "Sistema Positivo de Ensino" (fornecedor  
> brasileiro de "sistemas educacionais e montador de computadores).  
> Isto pode levar à uma situação em que experiências e projetos  
> educacionais ficariam estanques, limitados à determinada região.  
> Pior ainda, pode levar ao cenário de termos a mesma escola com  
> dispositivos diferentes a cada ano, com sistemas educacionais  
> incompatíveis. Professores poderiam ser obrigados a ter de aprender  
> e desenvolver metodologias de ensino diferentes a cada nova compra  
> estatal, só porque um fornecedor conseguiu vencer o leilão por  
> alguns centavos a unidade. Não menos pior, a prática educativa  
> poderia ficar restrita ao que existe na Web (que é o mínimo  
> denominador comum entre plataformas de software) e a poucos  
> programas multiplataforma.
>
> 3. Um governo democrático e justo é obrigado a fazer licitação para  
> comprar hardware ou software proprietário, mas não precisa  
> necessariamente de licitação para adotar software livre, como, por  
> exemplo, uma plataforma comum de ensino.
>
> >         O segundo equívoco que tenho observado é a idéia de que o
> > acesso a um software inovador por si próprio garantirá uma revolução
> > na educação. Bem, essa é uma equívoco que muitas das pessoas mais
> > geniais que trabalharam na área cometeram no passado, e que gostaria
> > de não ver repetido. No início da reflexão sobre informática na
> > educação, pensou-se que o simples acesso do LOGO garantiria uma
> > restruturação da escola.
>
> 4. Aí entra o Sugar, principalmente como ferramenta de colaboração.  
> Mais que isso, uma ferramenta de expressão em grupo. Bem diferente  
> de Logo. Eu adoro Logo, já lecionei Logo na escola da Dra. Magda  
> Bercht (da Ufrgs, Brasil), mas Logo é como xadrez. Xadrez é ótimo  
> para desenvolver a capacidade de jogar xadrez, já bem disse o  
> Millôr Fernandes. Nada mais. Da mesma forma, Logo é ótimo para se  
> aprender Logo e lógica de programação, mas é só. Não dá pra se  
> fazer muitas coisas úteis, é quase que só um spirograph digital.
>
> Já um ambiente de colaboração e expressão como Sugar (ou similar)  
> permite se fazer qualquer coisa em comunicação colaborativa:  
> textos, gráficos, vídeos, áudios, músicas, softwares. Quase tudo o  
> que é forma de expressão do ser humano. E em grupo.
>
> Não conheço construcionismo, nem estou preocupado com isso. A  
> inclusão digital escolar pode ser feita com bases construcionistas,  
> mas, eventualmente, um país pode se decidir por outra filosofia  
> educacional, isto é possível, acontece. Não importa.
>
> O que conheço é Comunicação Social o suficiente para saber que,  
> quando se colocam pessoas se comunicando com ferramentas de  
> expressão eficientes (como a Web, que é o melhor exemplo até hoje),  
> as coisas começam a acontecer, seja lá qual concepção pedagógica  
> esteja por trás. Com ou sem projetos por trás. Com projetos, melhor  
> ainda. Acontecem mais coisas, claro, e mais rapidamente, com mais  
> conseqüências, e tal.
>
> Então, colocar 100 milhões de alunos, professores e secretarias de  
> educação em comunicação com uma poderosa ferramenta comum, e achar  
> que isto, "apenas", não vai dar em nada, é o mesmo que achar que  
> colocar um bilhão de computadores e servidores de informação em  
> rede e achar que não vai dar em nada.
>
> Mas assim como o TCP/IP, o email, a Web etc foram as plataformas  
> comuns que permitiram o desenvolvimento explosivo da comunicação  
> social nos últimos 18 anos, um ambiente educacional comum é o que  
> se precisa para impulsionar este desenvolvimento na escola. Poderia  
> ser o Squeak, poderia ser o Sugar. Mas tem que haver um. Todas as  
> escolas do mundo precisam falar e trabalhar com todas as escolas do  
> mundo. O Sugar me parece a melhor proposta, até agora.
>
> Neste sentido, o ambiente comum é mais importante que uma das  
> plataformas de hardware usadas. Também acho o XO incrível,  
> revolucionário e puxador do samba dos ultramóveis, torço por ele,  
> mas ele não será o único.
>
> >       Nesta linha de pensamento, volto ao ponto que gerou toda essa
> > polêmica que foi o Windows XP sendo portado para o XO. E aqui ouso a
> > pensar que  faço mais um alerta. Se um país decide que o melhor para
> > educação de suas crianças é utilizar Windows XP, quem somos nós para
> > dizermos que não?
>
> Concordo com você. O Windows rodando no XO é legal, mas, como se  
> diz no Brasil, não fede nem cheira. Além de exigir sempre o dobro  
> de recursos do que software livre, é apenas um sistema-operacional- 
> morto-caminhando. Não tem muito mais que dois anos de vida pela  
> frente.
>
> Muito mais importante que o Windows rodando no XO é o Sugar rodando  
> no Windows (ou em qualquer outro sistema operacional). Porque há  
> mais chances de ser comprado um laptop não-XO com Windows que ser  
> comprado o XO windowsficado. E o Sugar poderá ser o mínimo  
> denominador comum necessário para aglutinar as diferenças, para  
> colar uma nova Web educacional colaborativa.
>
> > A OLPC
> > continua não só apoiando mas também patrocinando o Sugar,  
> considerando
> > que a maior parte dos desenvolvedores são funcionários ou  
> consultores
> > da OLPC. Se esta tirasse o seu apoio financeiro ao projeto,  
> poderíamos
> > no mínimo lançar dúvidas sobre a sua continuidade.
>
> É bem possível...
>
> > Nessa mesma idéia,
> > se a OLPC fechasse amanhã, poderíamos lançar também dúvidas sobre a
> > disposição das empresas em criar laptops de baixo custo para  
> educação,
> > os quais canibalizam suas margens de lucro.
>
> Talvez, mas agora é tarde, mais de 50 fabricantes já descobriram o  
> filão aberto pela OLPC, os governos já sabem que é possível fazer  
> computadores móveis baratos. De qualquer forma, e ainda bem, a OLPC  
> parece que vai continuar revolucionando.
>
> São algumas considerações que faço, mais como pensamento alto que  
> como certeza.
>
> Abraços!
>
> --------------------------------------
> Íntegra do post do Juliano na lista OLPC Brasil:
>
> Caros colegas,
>
>       Nos útlimos meses tenho presenciado nesta lista várias
> discussões de colegas sobre a questão do Windows XP rodando no XO, da
> saída do Walter Bender da OLPC e do surgimento do SugarLabs. Acho toda
> a discussão importante para refletirmos profundamente acerca destes
> fatos e das questões que levantam e por isso tenho me colocado como
> espectador atento de todo esse processo. Entretanto vi nos últimos
> tempos o surgimento de alguns argumentos que particularmente considero
> preocupantes.  Também tenho visto uma depreciação da imagem da OLPC
> baseada muito mais em falta de compreensão e diálogo do que em fatos.
>
>        A primeira grande falácia que tenho ouvido repetidas vezes é
> que agora (após a versão do Windows XP para o XO) o que importa é o
> Sugar e não mais o XO. Por mais que eu goste do Sugar, desde de quando
> criar um laptop de baixo custo, baixo consumo de energia e
> conectividade mesmo sem Internet deixou de ser uma boa idéia? O XO é
> significativamente mais sofisticado que os outros laptops que se
> propõe a concorrer com ele, e o seu esforço de engenharia não foi
> colocado apenas em minituarização, mas principalmente em fazê-lo
> funcionar em condições onde nenhum outro funciona. Por exemplo, em
> Ruanda 99% das escola primárias não tem eletricidade. Neste tipo de
> cenário qualquer um dos concorrentes do XO funcionaria? Mesmo no
> Brasil,  11% das escolas públicas da Amazônia Legal não tem
> eletricidade.  Antes mesmo da primeira linha de código ser executada,
> é necessário existir uma máquina viável, tanto economicamente quando
> tecnicamente considerando os contextos que ela se propõe a atender.
>
>         O segundo equívoco que tenho observado é a idéia de que o
> acesso a um software inovador por si próprio garantirá uma revolução
> na educação. Bem, essa é uma equívoco que muitas das pessoas mais
> geniais que trabalharam na área cometeram no passado, e que gostaria
> de não ver repetido. No início da reflexão sobre informática na
> educação, pensou-se que o simples acesso do LOGO garantiria uma
> restruturação da escola. Na realidade o que aconteceu foi a escola
> assimilando o computador no laboratório de informática e substituindo
> os usos inovadores do LOGO por aulas de LOGO. Depois, substituindo as
> aulas de LOGO por aulas de computador, então nada remanescendo das
> idéias originais sobre computadores e aprendizagem. Pensar que por
> mais genial que o Sugar seja, que ele vai revolucionar a educação por
> si só é no mínimo um equívoco. Ele é apenas uma parte de um projeto
> maior e devemos tomar cuidado com a forma que usamos o termo "é um
> projeto educacional". Já presenciei ele sendo utilizado de formas
> muito "mundanas" como em "aulas de sugar". Se não existir esforço em
> inserir novas idéias acerca da aprendizagem e como os computadores
> podem auxiliar nesse processo, ele não passará muito mais disso.
>
>         Outro ponto relacionado a isso é julgar que o sugar é o novo
> representante legítimo do construcionismo de Papert. O constucionismo
> é uma proposta pedagógica para o uso do computador na educação e não
> uma especificação de software. Muitas pessoas, inclusive nós aqui no
> LEC, buscamos utilizar o computador dentro de uma proposta
> construcionista muito antes da discussão sobre software livre começar
> a surgir. Para isso utilizamos primeiro os MSX e depois PCs rodando
> Windows. Para ser franco, por mais que nos posicionemos a favor do uso
> de Linux nas escolas, ainda é bastante difícil encontrar softwares
> livres educacionais com qualidade para apoiar práticas construtivistas
> e a implantação do Linux nas escolas públicas brasileiras tem sido até
> então, no mínimo difícil. Por isso tomemos cuidado ao dizer que o
> Sugar é o novo monumento ao construcionismo e quem não usa ele (ou
> quem usa software proprietário) não está sendo construcionista. Papert
> quando desenvolveu o construcionismo não utilizou software livre.
>
>        Nessa altura muitos devem estar pensando que eu sou contra o
> Sugar e o software livre! Muito pelo contrário. Dediquei muitos anos
> da minha vida ao trabalho com Linux dentro das escolas públicas e
> particularmente acho o Sugar umas das coisas mais legais que se
> inventou na área de software nos últimos tempos. Mas usando uma idéia
> de Paulo Freire (já que falamos de educação) que gosto muito, devemos
> distinguir a militancia  cega do pensamento crítico. No caso evitar a
> militancia é pararmos de olharmos para o nosso próprio umbigo e termos
> atitudes colonialistas nos intitulando "herórios/salvadores das
> criancinhas do país X" pq desenvolvemos o sugar, e termos pensamento
> crítico é sermos capazes olharmos para os nosso próprios problemas e
> falhas, aprendermos com eles, e nos re-estruturarmos mais fortes. Por
> exemplo, por mais que defenda o software livre nas escolas públicas,
> sei das muitas dificuldades que isso traz para os professores, e acho
> que a solução não é negar as dificuldades mas sim trabalhar para
> soluciona-las.
>
>       Nesta linha de pensamento, volto ao ponto que gerou toda essa
> polêmica que foi o Windows XP sendo portado para o XO. E aqui ouso a
> pensar que  faço mais um alerta. Se um país decide que o melhor para
> educação de suas crianças é utilizar Windows XP, quem somos nós para
> dizermos que não? Não estaríamos sendo contraditórios em dizer que as
> pessoas tem *liberdade* de escolha desde de que façam as escolhas que
> nós julgamos corretas? Se o movimento do Software Livre representa na
> sociedade moderna um movimento pela liberdade, devemos respeitar
> aqueles que não desejam se juntar a nós. Discutir, tentar influenciar,
> abrir possibilidades, trazer novas idéias: sempre. Impor, nunca!!!
> Justamente pela OLPC ser um projeto de educação, seria correto ela
> negar as crianças de uma determinada nação acesso aos seus laptops (e
> dentro da sua lógica a possibilidade de uma educação melhor) só porque
> os políticos decidiram que querem Windows nas máquinas?
>
>        No Brasil, uma das coisas que mais admiro é como o movimento
> de Software Livre conseguiu com muita habilidade atingir as esferas
> mais altas do governo. Sem imposição, mas com conscientização. Ao
> invés de simplesmente negarmos aos outros países laptop com Windows,
> devemos trabalhar com as pessoas daquele país para ver como é possível
> influenciarmos as idéias de seus governantes.
>
>       Por fim, gostaria de dizer que acredito que a maior parte das
> críticas a OLPC que tenho visto aqui são, no mínimo, injustas. A OLPC
> continua não só apoiando mas também patrocinando o Sugar, considerando
> que a maior parte dos desenvolvedores são funcionários ou consultores
> da OLPC. Se esta tirasse o seu apoio financeiro ao projeto, poderíamos
> no mínimo lançar dúvidas sobre a sua continuidade. Nessa mesma idéia,
> se a OLPC fechasse amanhã, poderíamos lançar também dúvidas sobre a
> disposição das empresas em criar laptops de baixo custo para educação,
> os quais canibalizam suas margens de lucro.
>
>        Por fim, dizer que o foco agora é o Sugar e não a OLPC é como
> dizer que o importante é o piano e não os pianistas.
>
>       Peço desculpas antecipadamente se ofendo alguém, mas achei
> importante compartilhar esses pensamentos com o grupo.
>
>       Atenciosamente,
>
>       Juliano
>
>
>
> Juliano Bittencourt <juliano at lec.ufrgs.br>
> Laboratório de Estudos Cognitivos - LEC
>
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> Alegre - RS - Brasil
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