[OLPC Brasil] Críticas ao projeto OLPC de um professor

marta caputo mvcaputo at yahoo.com.br
Sat May 19 19:05:38 EDT 2007


Aqui na minha cidade (Bauru, SP), a INTEL doou laboratórios de informática para cerca de 20 escolas. Nenhum deles está em uso. As diretoras das escolas não têm sequer a competência e a boa vontade de correr atás de um técnico para colocá-los em rede. As máquinas já estão virando sucata, trancafiadas em uma sala qualquer, na dependência das escolas. Nenhum dos 20 laboratórios está em funcionamento.
  Os professores não querem mais essa dor de cabeça, pois não têm treinamento específico para usar os computadores com seus alunos. Será que com laptops seria diferente? Duvido!!! Não sou, absolutamente, contra a tecnologia na escola. Muito pelo contrário! Podem inclusive constatar pela minha modesta contribuição, como ministrante da disciplina Educação e Comunicação, no curso de Pedagogia da UNESP daqui, pelo pequeno site que elaborei como resultado da disciplina em www.freewebtown.com/pedagogia
  Aliás, quando o site estava em vias de ficar pronto, solicitei ao departamento de Educação que o mesmo fosse linkado ao site oficial do curso. Não houve qualquer interesse. Afinal, eu era apenas uma professorinha bolsista... como é que poderia estar fazendo melhor que os titulares (que não fazem nicas!)? Como é que poderia estar levando meu trabalho com tanta boa vontade, ganhando R$700 por mês?!
  Nem sequer me enviaram um e-mail agradecendo ou se comprometendo a disponibilizar essas paginazinhas para os alunos que trabalharam com tanto afinco durante alguns meses, junto das páginas do próprio curso.
  Ou seja: mais uma vez, precisamos saber que educação queremos. Que sociedade queremos. Não é um computador por aluno que vai trazer essas respostas.  100 milhões de dólares é dinheiro demais para uma única finalidade, em termos de educação, num país como o nosso. Sabemos que no trajeto desses 100 milhões, até que virem um computador por aluno, haverá um incomensurável cardume de tubarões babando sangue prá meter a mão nessa grana! E o político-tubarão brasileiro não entende lhorfas de Educação! Apontem-me UM político brasileiro que tenha deixado um projeto político-pedagógico como herança para as nossas crianças! Pensaram? Acharam um nome? Não? Pois é...
  Pois eu lhes digo: Cristovam Buarque, enquanto ministro da Educação tinha um projeto maravilhoso - o da TV Escola, um projeto prá lá de bacana, mas que, assim que o Cristovam deixou de ser ministro, parece que foi abandonado, como sempre acontece aqui, na dança das cadeiras entre a classe política.
   Quando fui assumir a disciplina da qual lhes falei, fui pesquisar o Projeto TV Escola e descobri que a UNESP daqui, por meio justamente do Departamento de Educação havia sido nomeada como uma unidade repercussora do projeto, tendo recebido um kit com antena parabólica, TV, livros, DVDs e videos. Fui procurar esse material e o encontrei lá no cantinho - o equipamento. Mas eu precisava dos livros para distribuir para os alunos, para que pudéssemos, por alí, acompanhar o conteúdo teórico. Qual não foi minha indignação ao saber que, por insistência da faxineira do departamento, os mais de 300 kits com os livros e os CDs do curso haviam sido levados para uma biblioteca da rede pública, pois estavam atrapalhando a limpeza do departamento!!!!!!!!!!! Vejam que despautério! Não tenham duvída de que fui reclamar essa situação absurda ao chefe do departamento, meio que exigindo o retorno dos livros, que são ótimos!
  Esse episódio ilustra muito bem aquilo que o Prof. Setzer coloca com relação à escola pública no Brasil: decididamente, não temos escola pública, mas estatal: aquela que não funciona com o envolvimento do público, da sociedade civil, mas como reflexo de um  estado inepto, incapaz, irresponsável e ganancioso. Cada vez mais ganancioso.
  Pois bem: voltando aos laptops. Talvez eles sejam necessários quando a sociedade civil se mobilizar em torno de educação decente para seus filhos! Não é uma decisão articulada nas inalcançáveis instâncias dos gabinetes dos políticos em Brasília que se vai melhorar nossa educação... mas só a consciência crítica e a capacidade de articulação de nossa população em torno daquelas duas questõezinhas que coloquei anteriormente: que educação queremos? que sociedade pretendemos construir? E, em torno dessa discussãozinha, nem a nossa classe política, nem a classe dos educadores e muito menos nossa sociedade civil se manifestou de maneira clara e objetiva. Não é colocando uma maquininha na mão de cada aluno, resultado apenas de negociata,  que resolveremos ou construiremos um projeto político-pedagógico para esta Nação. Isso será apenas o desperdício de 100 milhões de US$. Quem certamente lucrará com isso será a INTEL e o Negroponte, pois o deles certamente estará garantido... e o
 que sobrar desses 100 milhões, entre os peixes pequenos, causará aquele alvoroço.
  Abraço,
  Marta
Roberto Fagá <robertofaga at gmail.com> escreveu:
  Marta, a questão é que tirar das escolas públicas a tecnologia não vai
melhorar a sociedade, ao contrário, vai excluir a classe pobre cada
vez mais. E além do mais, acho inválido questionar se o projeto está
tendo ou não um conteúdo educacional adequado uma vez que ele é livre,
quero dizer, duvidar sim, mas escrever artigo sobre isso... Acho que
ao invés de apostar em algo não dar certo, pode-se ajudar o projeto,
visto que a OLPC é uma instituição sem fins lucrativos e aberta a
ajuda de todos (além de ter vários grupos de pesquisa aqui no Brasil
trabalhando nisso também).
Por outro lado, a inclusão na tecnologia é algo inevitável,e um deles
serão escolhidos para as escolas, seja o XO ou o ClassMate da Intel,
ou então ainda mais computadores normais como já é feito atualmente e
produz pouquíssimo ou nenhum resultado uma vez que conheço professores
da rede pública que se queixam que a aula seria muito interessante com
o uso do computador para determinados meios, como o citado pela profª
Jenny, mas falta equipamentos ou são de difícil operação, ou ainda
como é o caso da maioria, não existe curso preparatório para os
professores.
Queremos uma sociedade melhor, sempre a humanidade quis, e acho que um
importante passo é a igualdade de oportunidades entre as diferentes
classes, pelo menos no quisito de conhecimento técnico.


On 5/19/07, Info-Educativa wrote:
>
>
> Acho melhor sugerir ao MEC fechar as escolas... Há negociata na compra
> de livros, lápis, borracha carteiras, merenda... Só quem não faz negociata é
> professor: vive com salário de fome.
> Vamos continuar elitizando a educação, deixar que só os filhos da classe
> média tenham acesso à tecnologia.
> Pergunta: quem disse que computadores e natureza são coisas antagônicas?
> Como vamos ter uma escola desta na Zona norte do Rio de Janeiro, nas grandes
> cidades de São Paulo?
> Meus alunos pesquisaram na internet as formas de plantio e foram para o
> quintal plantar uma horta! Estão vendo dia a dia o progresso de seu trabalho
> e fazem gráficos no computador, escalas de revezamento para molhar as mudas,
> atividades que englobam cooperação, defesa do meio ambiente, cidadania e
> contato com a natureza, pois temos o privilégio de viver em meio a uma
> reserva do restinho de mata atlantica que ainda temos no Rio.
> Me perdoe, mas radicalismo não! Não podemos voltar no tempo e os corruptos
> que sejam postos na cadeia.
> Jenny
>
> ----- Original Message -----
> From: marta caputo
> To: Brasil at laptop.org
> Sent: Saturday, May 19, 2007 2:51 AM
> Subject: Re: [OLPC Brasil] Críticas ao projeto OLPC de um professor
>
>
>
>
> Refletir e ser totalmente contra? Sem apresentar nenhumzinho argumento de
> porquê você é contra as colocações do Professor Setzer?! Como assim?! Sua
> postura é aquela do tipo "sou contra porque sou contra?" Afffff...
> Ele não poderia ter sido mais brilhante na exposição de seus argumentos,
> analisando tão acuradamente as muitas facetas de mais essa negociata escusa
> entre o governo brasileiro e a INTEL.
> São os homens do "puder" aqui dessa Banana Republic comprando sucata
> técnológica dos países do hemisfério norte, depois que o uso das mesmas já
> se comprovou inútil por lá. Apenas prá abocanhar o seu quinhãozinho, nas
> comiças, nas licitaçõezinhas...
> Acompanho as discussões desta lista há tempos. Nenhum projeto
> político-pedagógico que cause alento foi apresentado, até o momento, nem por
> parte do governo, nem por parte da INTEL.
> Infelizmente, creio que estamos sepultando qualquer possibilidade de
> oferecer as nossas crianças o direito a uma infância digna, alegre,
> saudável, segura, esperançosa, amorosa, cultivando princípios para uma
> existência mais humana.
> Se, ao invés de distribuir um laptop por aluno (o UCA devia se chamar URUCA
> - cedo ou tarde, a analogia será inevitável), pudéssemos promover às nossas
> crianças, aos seus pais e professores a oportunidade de frequentar uma
> escola da pedagogia Waldorf, ninguém ia querer saber de computador tão cedo!
> Porque numa escola Waldorf, as crianças aprendem a respeitar a natureza (as
> aulas de educação agrícola, plantar, colher, preparar os alimentos com
> aquilo que todos, juntos plantaram - e entenderam todos os muitos contextos
> envolvidos só nesse simples processo - para citar apenas um), os seus
> semelhantes e valores como a colaboração e a solidariedade, dentre muitos
> outros.
>
> O artigo do Prof. Setzer me trouxe pelo menos um alento: ainda existem seres
> pensantes que pensam com o auxílio luxuoso do coração...
>
> Bom fim de semana prá todos.
> Marta Caputo
>
> Nathalia Sautchuk Patrício escreveu:
> Leiam esse texto, é bem extenso, mas vale a pena nem que seja só para
> refletir e ser totalmente contra...
>
> http://www.ime.usp.br/%7Evwsetzer/um-laptop-por-crianca.html
>
>
>
> --
> Nathalia Sautchuk Patrício
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