[OLPC Brasil] FUD indiano no IDG

Denise Vilardo dvilardo at gmail.com
Tue Jul 31 21:35:13 EDT 2007


*** ***** **** Caros companheiros da lista,

O medo é uma coisa muito triste mesmo...

E, pra não perder o jeito, e a oportunidade... não posso deixar de lembrar
de Paulo Freire quando, em 1968, falou na sua "Pedagogia do Oprimido", em
relação ao medo da liberdade: *"nos oprimidos, o medo da liberdade é o medo
de assumi-la. Nos opressores, é o medo de perder a "liberdade*" de oprimir."

Apesar do desuso das categorias opressores X oprimidos, continua atual ou é
impressão minha?

O professor que ainda acredita que para "educar é preciso controlar o
conteúdo", só permitindo que o aluno tenha acesso ao que ele, professor,
julgue que seja adequado, perdeu o bonde da história, né não?

É mais ou menos como se acreditava, há mais de 40 anos, que para alfabetizar
os meninos, o professor só podia apresentar, primeiro, apenas as vogais, em
seguida, apenas as palavras que contivessem o que chamamos de padrão CV
(consoante + vogal), por exemplo: ma - ca - co (porque eram consideradas
mais simples, mais fáceis). E as palavras que contivessem encontros
consonantais e dígrafos só eram dadas se houvesse tempo... E o garoto que se
chamava Guilherme estava "ferrado", porque só aprendia o seu nome no final
do ano letivo... também, quem mandou ter nome complexo e difícil???

Ou seja, além de desconsiderar todo o universo do aluno, incluindo aí a
total falta de sensibilidade para com a identidade do próprio,
desconsiderava-se, também, toda a maneira como os sujeitos aprendem. A
curiosidade, o desafio, a ousadia de pensar e fazer relações entre as coisas
eram abafados. E aula era assim mesmo: o professor falava, e o aluno,
quieto, apenas ouvia.

Mas como falar em educar nos dias atuais, pensando em controlar conteúdo,
quando o bonito dessa história é justamente a gente estimular os alunos pra
ver até onde eles são capazes de chegar? É criar oportunidades para que eles
tenham autonomia para descobrirem seus caminhos, fazendo os seus links?

É começar uma aula comentando o resultado dos Jogos Pan-Americanos e
enveredar pela economia, pela política, pela organização social dos países
envolvidos. É conhecer e comentar os países e as representações das
respectivas bandeiras. Analisar estatísticas de jogos e de medalhas. É
voltar pros esportes e pensar no que eles representavam anteriormente, e o
que representam hoje em dia. É discutir se algumas modalidades são ou não um
esporte. É analisar os esportes coletivos e os individuais. É analisar as
questões de gênero no campeonato. Discutir dopping, boicote, "levar
vantagem" e outros tantos assuntos que nos fazem pensar sobre as atitudes
humanas.

E se os alunos quiserem aprofundar seus conhecimentos sobre os países da
América Central? Serão impedidos porque não está previsto nos conteúdos
curriculares?

Como é que se pretende controlar isso??? Ou isso tudo não é conteúdo?

E, pior, como pensar em controlar conteúdo utilizando os laptops??? Não
combina, não combina! Estamos falando de compartilhamento de informações e
de construção de novos conhecimentos.

"Alguma coisa tá fora da ordem..."

Uma outra frase que me deixa preocupada na notícia é "...além de treinar
professores no uso de computadores."

Por favor, vamos parar de falar em treinar pessoas para a utilização de
computadores, como se as máquinas fossem meros recursos pra tornar o ensino
mais bonitinho e "muderno"; pra facilitar o ensino... O foco é na
aprendizagem! Os professores não podem/devem ser treinados pra usar
computadores, como me ensinaram, no final da década de 70, a utilizar o
retroprojetor, o projetor de slides e o álbum seriado... eram os famosos
"recursos audiovisuais".

Penso que utilizar os computadores com os professores deve atender a duas
premissas básicas: compartilhar com eles as possibilidades de aprendizagem,
procurando entender as formas de organização não-linear, de seleção, de
funções, de relações etc e pensar/criar junto com eles metodologias
produtivas de trabalho.

Chega de querer treinar professor, como se ele fosse um sujeito que não
pensa e que não cria.

A sorte é que ninguém vai conseguir controlar os alunos! E espero que os
professores percam o medo e se descontrolem também ;-)

Um grande e fraterno abraço a todos.

Denise Vilardo



Em 31/07/07, Jecel Assumpcao Jr <jecel at merlintec.com> escreveu:
>
> José Antonio,
> > O jornalista John Ribeiro (Ribeiro? De Goa, talvez?) termina matéria
> sobre
> > lançamento do Classmate Intel na Índia com um FUDzinho:
> >
> > "Na Índia, no entanto, o programa OLPC não foi adotado pelo governo,
> > entre outras razões, porque ele não permite controle do conteúdo pelos
> professores.
>
> Mas isso está correto - você não pode ter simultaneamente a liberdade
> dos alunos e o controle dos professores. Só que faltou ele completar:
> enquanto o Classmate permite que os professores tenham este
> controle..... por uns dois dias ;-)
>
> -- Jecel
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