[OLPC Brasil] Re: [Ead-l] Bloquear peladas... e o ensino de Macumba?

Jaime Balbino jaimebalb at gmail.com
Wed Jan 10 07:56:28 EST 2007


Gustavo,

Não queria parecer preconceituoso com os evangélicos. O exemplo que
dei sobre as transmissões de TV que tem a intolerância como mote
ocorrem diariamente nas madrugadas em rede nacional. Mesmo que esta
religião diga pregar a convivência e a liberdade quando questionada,
isso não muda o fato do que é a programação levada ao ar em dois
canais a quase 1 década.

Mão queria manifestar preconceito, mas constatar um fato. Poderia
utilizar outros exemplos em outras religiões, mas não me ocorreu
nenhum mais nevrálgico e esclarecedor que este.

Também não quis dizer que todas ou a maioria das escolas e comunidades
defendem explicitamente uma "moral cristã". O modelo laico de ensino
faz parte de uma longa tradição no Brasil. A incorporação recente de
temas relativos à cultura negra no currículo, por força de lei coroa a
democria no Estado brasileiro. A exceção fica a cargo do governo
estadual também citado como exemplo.

No entanto, devo discordar desta laicidade cotidiana pelo que vi e
vivi. Vi cidades muito pequenas questionarem a atuação de professores
kardecistas e vi o mesmo sentimento em cidades grandes, a ponto de
conhecer gente que não confessa sua religião na escola. Vivi em
escolas e universidades laicas que sofriam do mesmíssimo problema.

Quando perguntado respondo que sou agnóstico. Na maioria das vezes a
reação horror supera qualquer outra resposta.

O que queria tratar no email é a abordagem dos temas. A morte de Zumbi
é feriado em muitas cidades e estados brasileiros, mas isso não
necessariamente faz com que a consciência negra seja tratada com a
devida profundidade na maiora das escolas. Mantendo distância do
objeto (como os mais antigos historiadores e antropólogos faziam)
pode-se tratar qualquer coisa sem se "contaminar" ou "correr riscos".
Mas aceitar o desafio de conhecer para poder se posicionar é bem
diferente. Assume-se discursos e olhares do outro e esta situação pode
despertar a "moralidade" em alguns. Como aqueles que vêem em Darwin
uma ameaça aos preceitos cristãos ou que reclamavam (parece que não
reclamam mais) do exagerado espiritismo nas novelas globais

Mas é claro que alguns temas merecem ser melhor argumentados. E isto
não foi feito no meu email e nem pretendo fazê-lo aqui. A Umbanda foi
instrumentalizada por mim para servir como exemplo de uma provocação.
Com todos os riscos inirentes de parecer uma provocação religiosa.

Poderia ter citado uma criança falando abertamente de sexo em casa, ao
invés das culturas afro-ascendentes, mas a provocação seria com certez
menos instigante.

Um abraço,
Jaime.




Em 09/01/07, gustavo.melo at ufrgs.br<gustavo.melo at ufrgs.br> escreveu:
>    No tempo que eu estava na escola(pública) , nunca ví nenhum tipo de
> discurso da "moral cristã" e pais revoltados com o ensino da
> tolerância religiosa ou algo assim.
>
>    Acho que vc me parece preconceituoso com os evangélicos(e eu
> pessoalmente não tenho religião nenhuma). Essa "moral cristã" que tú
> citou anteriormente talvez exista ainda em escolas católicas muito
> conservadoras. Mas na rede pública "normal" não existe mais.
>
>    Quando entrei na escola em 1989 nem aula de ensino religioso
> existia mais. E na verdade os professores , principalmente os de
> ciências sociais , história , artes , geografia e filosofia faziam
> muito mais o esteriótipo do socialista/comunista-viva-cuba-anti-igreja
> católica do que de algum disseminador "da moral e dos bons costumes. E
> em várias vezes desde a 2º ou 3º série do primeiro grau se fazia o
> "dia de zumbi" e tal na escola. Quando sai do colégio em 2002 isso só
> tinha aumentado.
>
>     Os outros professores simplesmente não entravam em assuntos que
> não eram da "matéria deles".
>
>     Acho que o assusta mesmo os professores é que as crianças e os
> adolescentes estão crescendo e aprendendo cada dia mais rápido e
> talvez até os deixando para trás e a escola cada dia prepara menos a
> pessoa , seja para o que for , tanto para o mercado de trabalho como
> para vida acadêmica e no final se vai empurrando com a barriga para
> simplesmente sair logo de lá(tanto por parte dos professores como dos
> alunos).
>
>
> **************************************************
> 8º Fórum Internacional Software Livre - fisl8.0
> 12, 13 e 14 de abril de 2007 - www.fisl.org.br
> Centro de Eventos FIERGS
> Porto Alegre, RS, Brasil
> **************************************************
>
>
> ----- Mensagem de jaimebalb at gmail.com ---------
>      Data: Tue, 9 Jan 2007 16:05:59 -0200
>      De: Jaime Balbino <jaimebalb at gmail.com>
> Endereço para Resposta (Reply-To): Jaime Balbino <jaimebalb at gmail.com>
>   Assunto: [OLPC Brasil] Re: [Ead-l] Bloquear peladas... e o ensino de Macumba?
>        Para: Lista de discussão sobre EAD <ead-l at listas.unicamp.br>,
> OLPC Brasil <brasil at laptop.org>
>
>
> > O Américo Damasceno, autor do material no Alphacity
> > (http://www.dmu.com), lembrou-me que o material em questão é
> > específico sobre Candomblé e não Umbanda, como informei.
> >
> > Estava puxando de memória uma navegação que fiz lá a algumas semanas.
> >
> > Ele também me lembra das diferenças que existem entre Candomblé,
> > Umbanda e Macumba. No meu email faz parte da provocação a mistura de
> > termos, mas acho que também é importante alertar para estas diferenças
> > reais.
> >
> > Por fim, também acho importante informar que o autor deste rico
> > material é de educação católica e fez tudo usando apenas o respeito
> > que tem pelas diversas religiões, não agindo como adepto, simpatizante
> > ou militante. Não havia imaginado de outra forma o autor, mas é bom
> > deixar claro aqueles que podem ver algum cunho politico na iniciativa.
> >
> > Um abraço,
> > Jaime.
> >
> > 2007/1/9, Jaime Balbino <jaimebalb at gmail.com>:
> >> Marcio,
> >>
> >> Ontem estava garimpando alguns exemplos da interface do laptop para
> >> uma palestra em gestaçao e lembrei que o ambiente Alphacity, uma
> >> cidade virtual dentro do XO, possui em uma de suas "casas" com
> >> proposta de atividade sobre cultos africanos, em especial a Unbanda.
> >>
> >> Fiquei imaginando utilizar este exemplo na palestra, como provocaçao.
> >> A proposta permite uma pequena imersao nesta cultura, sem preconceitos
> >> ou estigmas, ja que sao as criancas e o professor que devem pesquisar,
> >> debater e desenvolver seu aprendizado. As imagens escolhidas sao
> >> bonitinhas e o "clima" da casa e' deveras agradavel, seguindo o padrao
> >> da "cidade" (alias, os poucos detalhes que deixam os desenhos quase
> >> toscos contribuem para esta quase "neutralidade" do ambiente).
> >>
> >> Esta "casa" pode ser utilizada como principio, meio ou fim de um
> >> estudo mais amplo sobre o tema especifico (cultos dos
> >> afro-descendentes) ou mais amplo (cultura brasileira e africana,
> >> escravidao, religioes, filosofia, etc...) e ainda temas
> >> transversais(etica, preconceito, etc...).
> >>
> >> Este nao e' o enfoque tradicional da Escola. Minha provocacao seria
> >> questionar quanto a reacao dos pais e das igrejas em saber que o filho
> >> esta aprendendo "macumba" na escola. Ainda mais se as atividades
> >> vinculadas estiverem dando certo e a crianca passar a discutir cultos
> >> africanos com naturalidade e respeito, sem o peso da moral crista.
> >>
> >> Imaginei aquelas igrejas que tem programas de TV dedicados a afirmar
> >> que todos os males do cotidiano se devem 'as religioes espiritas e de
> >> origem africanas. Tambem os governos, como no Rio de Janeiro, que
> >> implementaram o creacionismo no curriculo. Pensei nas criticas veladas
> >> e manifestacoes publicas que fariam.
> >>
> >> No final, conclui que esta seria estas seriam atividades fadadas 'a
> >> censura, seja pelo professor, pela escola, pela propria comunidade,
> >> pelos divernos niveis de governo. Ordens judiciais (como a que
> >> bloqueou o Youtube) seriam expedidas para bloquear esta parte do
> >> Aphacity (e' um programa que funciona em rede) e seriamos obrigados a
> >> "adequar" o conteudo, leia-se: iserir o preconceito e a cristandade
> >> ainda faltante.
> >>
> >> Marilena Chaui nos ajudaria nesta discussao.
> >>
> >> Um abraço,
> >>
> >> Jaime Balbino
> >>
> >> 2007/1/8, Marcio de Araujo Benedito <china.listas at gmail.com>:
> >>> * José Antonio (joseantoniorocha at gmail.com) wrote:
> >>>
> >>> > Não adianta ter maquininhas do século 21 com pedagogia e preconceitos
> >>> > do século 19.
> >>>
> >>> Creio que o problema não é a pedagogia ou os preconceitos do século 19,
> >>> mas a legislação vigente. Se a polícia chega na sala de aula e flagra um
> >>> menor de 18 anos vendo pornografia, quem vai preso é você, professor do
> >>> século 21!!!
> >>>
> >>> Aqui em Belo Horizonte o acesso é liberado nas 207 escolas municipais,
> >>> e o professor aproveita estes
> >>> momentos para trabalhar a formação ampla do aluno com cidadão, construindo
> >>> no ambiente da escola um espaço para discussões sobre os limites e as
> >>> liberdades. Mas tá cheio de pai de aluna que engravidou aos 12 anos
> >>> colocando a culpa neste tipo de escola. E quando o rapa chegar? Vamos
> >>> todos para a cela especial por ter curso superior???
> >>>
> >>> A preocupação não é se coloca bloqueio ou não, mas se a casa cair quem
> >>> vai em cana? Ou vamos mudar a lei antes????
> >>>
> >>> --
> >>> Existem muitas semelhanças entre a colonização eletrônica e o
> >>> sistema colonial antigo. [...] O sistema colonial recruta elites
> >>> locais para conseguir subjugar o resto da população. Ao fornecer
> >>> cópias grátis de seus softwares, que não são livres, para escolas,
> >>> a Microsoft está usando a escola para criar uma futura dependência
> >>> tecnológica na sociedade.
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