[OLPC Brasil] Re: [Ead-l] Bloquear peladas... e o ensino de
Macumba?
Fábio Emilio Costa
fabiocosta0305 at gmail.com
Wed Jan 10 08:13:38 EST 2007
Eu já vi sites de igrejas evangélicas chegando a absurdos de pedir que
os pais impedissem os filhos de participarem de Festas Juninas por
alegarem ser "culto a ídolos" e coisas do gênero.
Sinceramente, acho que ensinar religião em escola não funciona, a não
ser que a escola em questão seja ligada a uma igreja específica *e*
que o mesmo não seja feito de maneira obrigatória. De outra forma,
perdemos o laicismo na escola e a tornamo-a um instrumento de
doutrinação religiosa extremamente perigoso (não importa a direção).
Creio que as escolas devam ser o mais laicas possíveis, mantendo o
ensino religioso restrito às Igrejas, onde isso deve acontecer (e onde
é natural que isso ocorra).
2007/1/10, Jaime Balbino <jaimebalb at gmail.com>:
> Gustavo,
>
> Não queria parecer preconceituoso com os evangélicos. O exemplo que
> dei sobre as transmissões de TV que tem a intolerância como mote
> ocorrem diariamente nas madrugadas em rede nacional. Mesmo que esta
> religião diga pregar a convivência e a liberdade quando questionada,
> isso não muda o fato do que é a programação levada ao ar em dois
> canais a quase 1 década.
>
> Mão queria manifestar preconceito, mas constatar um fato. Poderia
> utilizar outros exemplos em outras religiões, mas não me ocorreu
> nenhum mais nevrálgico e esclarecedor que este.
>
> Também não quis dizer que todas ou a maioria das escolas e comunidades
> defendem explicitamente uma "moral cristã". O modelo laico de ensino
> faz parte de uma longa tradição no Brasil. A incorporação recente de
> temas relativos à cultura negra no currículo, por força de lei coroa a
> democria no Estado brasileiro. A exceção fica a cargo do governo
> estadual também citado como exemplo.
>
> No entanto, devo discordar desta laicidade cotidiana pelo que vi e
> vivi. Vi cidades muito pequenas questionarem a atuação de professores
> kardecistas e vi o mesmo sentimento em cidades grandes, a ponto de
> conhecer gente que não confessa sua religião na escola. Vivi em
> escolas e universidades laicas que sofriam do mesmíssimo problema.
>
> Quando perguntado respondo que sou agnóstico. Na maioria das vezes a
> reação horror supera qualquer outra resposta.
>
> O que queria tratar no email é a abordagem dos temas. A morte de Zumbi
> é feriado em muitas cidades e estados brasileiros, mas isso não
> necessariamente faz com que a consciência negra seja tratada com a
> devida profundidade na maiora das escolas. Mantendo distância do
> objeto (como os mais antigos historiadores e antropólogos faziam)
> pode-se tratar qualquer coisa sem se "contaminar" ou "correr riscos".
> Mas aceitar o desafio de conhecer para poder se posicionar é bem
> diferente. Assume-se discursos e olhares do outro e esta situação pode
> despertar a "moralidade" em alguns. Como aqueles que vêem em Darwin
> uma ameaça aos preceitos cristãos ou que reclamavam (parece que não
> reclamam mais) do exagerado espiritismo nas novelas globais
>
> Mas é claro que alguns temas merecem ser melhor argumentados. E isto
> não foi feito no meu email e nem pretendo fazê-lo aqui. A Umbanda foi
> instrumentalizada por mim para servir como exemplo de uma provocação.
> Com todos os riscos inirentes de parecer uma provocação religiosa.
>
> Poderia ter citado uma criança falando abertamente de sexo em casa, ao
> invés das culturas afro-ascendentes, mas a provocação seria com certez
> menos instigante.
>
> Um abraço,
> Jaime.
>
>
>
>
> Em 09/01/07, gustavo.melo at ufrgs.br<gustavo.melo at ufrgs.br> escreveu:
> > No tempo que eu estava na escola(pública) , nunca ví nenhum tipo de
> > discurso da "moral cristã" e pais revoltados com o ensino da
> > tolerância religiosa ou algo assim.
> >
> > Acho que vc me parece preconceituoso com os evangélicos(e eu
> > pessoalmente não tenho religião nenhuma). Essa "moral cristã" que tú
> > citou anteriormente talvez exista ainda em escolas católicas muito
> > conservadoras. Mas na rede pública "normal" não existe mais.
> >
> > Quando entrei na escola em 1989 nem aula de ensino religioso
> > existia mais. E na verdade os professores , principalmente os de
> > ciências sociais , história , artes , geografia e filosofia faziam
> > muito mais o esteriótipo do socialista/comunista-viva-cuba-anti-igreja
> > católica do que de algum disseminador "da moral e dos bons costumes. E
> > em várias vezes desde a 2º ou 3º série do primeiro grau se fazia o
> > "dia de zumbi" e tal na escola. Quando sai do colégio em 2002 isso só
> > tinha aumentado.
> >
> > Os outros professores simplesmente não entravam em assuntos que
> > não eram da "matéria deles".
> >
> > Acho que o assusta mesmo os professores é que as crianças e os
> > adolescentes estão crescendo e aprendendo cada dia mais rápido e
> > talvez até os deixando para trás e a escola cada dia prepara menos a
> > pessoa , seja para o que for , tanto para o mercado de trabalho como
> > para vida acadêmica e no final se vai empurrando com a barriga para
> > simplesmente sair logo de lá(tanto por parte dos professores como dos
> > alunos).
> >
> >
> > **************************************************
> > 8º Fórum Internacional Software Livre - fisl8.0
> > 12, 13 e 14 de abril de 2007 - www.fisl.org.br
> > Centro de Eventos FIERGS
> > Porto Alegre, RS, Brasil
> > **************************************************
> >
> >
> > ----- Mensagem de jaimebalb at gmail.com ---------
> > Data: Tue, 9 Jan 2007 16:05:59 -0200
> > De: Jaime Balbino <jaimebalb at gmail.com>
> > Endereço para Resposta (Reply-To): Jaime Balbino <jaimebalb at gmail.com>
> > Assunto: [OLPC Brasil] Re: [Ead-l] Bloquear peladas... e o ensino de Macumba?
> > Para: Lista de discussão sobre EAD <ead-l at listas.unicamp.br>,
> > OLPC Brasil <brasil at laptop.org>
> >
> >
> > > O Américo Damasceno, autor do material no Alphacity
> > > (http://www.dmu.com), lembrou-me que o material em questão é
> > > específico sobre Candomblé e não Umbanda, como informei.
> > >
> > > Estava puxando de memória uma navegação que fiz lá a algumas semanas.
> > >
> > > Ele também me lembra das diferenças que existem entre Candomblé,
> > > Umbanda e Macumba. No meu email faz parte da provocação a mistura de
> > > termos, mas acho que também é importante alertar para estas diferenças
> > > reais.
> > >
> > > Por fim, também acho importante informar que o autor deste rico
> > > material é de educação católica e fez tudo usando apenas o respeito
> > > que tem pelas diversas religiões, não agindo como adepto, simpatizante
> > > ou militante. Não havia imaginado de outra forma o autor, mas é bom
> > > deixar claro aqueles que podem ver algum cunho politico na iniciativa.
> > >
> > > Um abraço,
> > > Jaime.
> > >
> > > 2007/1/9, Jaime Balbino <jaimebalb at gmail.com>:
> > >> Marcio,
> > >>
> > >> Ontem estava garimpando alguns exemplos da interface do laptop para
> > >> uma palestra em gestaçao e lembrei que o ambiente Alphacity, uma
> > >> cidade virtual dentro do XO, possui em uma de suas "casas" com
> > >> proposta de atividade sobre cultos africanos, em especial a Unbanda.
> > >>
> > >> Fiquei imaginando utilizar este exemplo na palestra, como provocaçao.
> > >> A proposta permite uma pequena imersao nesta cultura, sem preconceitos
> > >> ou estigmas, ja que sao as criancas e o professor que devem pesquisar,
> > >> debater e desenvolver seu aprendizado. As imagens escolhidas sao
> > >> bonitinhas e o "clima" da casa e' deveras agradavel, seguindo o padrao
> > >> da "cidade" (alias, os poucos detalhes que deixam os desenhos quase
> > >> toscos contribuem para esta quase "neutralidade" do ambiente).
> > >>
> > >> Esta "casa" pode ser utilizada como principio, meio ou fim de um
> > >> estudo mais amplo sobre o tema especifico (cultos dos
> > >> afro-descendentes) ou mais amplo (cultura brasileira e africana,
> > >> escravidao, religioes, filosofia, etc...) e ainda temas
> > >> transversais(etica, preconceito, etc...).
> > >>
> > >> Este nao e' o enfoque tradicional da Escola. Minha provocacao seria
> > >> questionar quanto a reacao dos pais e das igrejas em saber que o filho
> > >> esta aprendendo "macumba" na escola. Ainda mais se as atividades
> > >> vinculadas estiverem dando certo e a crianca passar a discutir cultos
> > >> africanos com naturalidade e respeito, sem o peso da moral crista.
> > >>
> > >> Imaginei aquelas igrejas que tem programas de TV dedicados a afirmar
> > >> que todos os males do cotidiano se devem 'as religioes espiritas e de
> > >> origem africanas. Tambem os governos, como no Rio de Janeiro, que
> > >> implementaram o creacionismo no curriculo. Pensei nas criticas veladas
> > >> e manifestacoes publicas que fariam.
> > >>
> > >> No final, conclui que esta seria estas seriam atividades fadadas 'a
> > >> censura, seja pelo professor, pela escola, pela propria comunidade,
> > >> pelos divernos niveis de governo. Ordens judiciais (como a que
> > >> bloqueou o Youtube) seriam expedidas para bloquear esta parte do
> > >> Aphacity (e' um programa que funciona em rede) e seriamos obrigados a
> > >> "adequar" o conteudo, leia-se: iserir o preconceito e a cristandade
> > >> ainda faltante.
> > >>
> > >> Marilena Chaui nos ajudaria nesta discussao.
> > >>
> > >> Um abraço,
> > >>
> > >> Jaime Balbino
> > >>
> > >> 2007/1/8, Marcio de Araujo Benedito <china.listas at gmail.com>:
> > >>> * José Antonio (joseantoniorocha at gmail.com) wrote:
> > >>>
> > >>> > Não adianta ter maquininhas do século 21 com pedagogia e preconceitos
> > >>> > do século 19.
> > >>>
> > >>> Creio que o problema não é a pedagogia ou os preconceitos do século 19,
> > >>> mas a legislação vigente. Se a polícia chega na sala de aula e flagra um
> > >>> menor de 18 anos vendo pornografia, quem vai preso é você, professor do
> > >>> século 21!!!
> > >>>
> > >>> Aqui em Belo Horizonte o acesso é liberado nas 207 escolas municipais,
> > >>> e o professor aproveita estes
> > >>> momentos para trabalhar a formação ampla do aluno com cidadão, construindo
> > >>> no ambiente da escola um espaço para discussões sobre os limites e as
> > >>> liberdades. Mas tá cheio de pai de aluna que engravidou aos 12 anos
> > >>> colocando a culpa neste tipo de escola. E quando o rapa chegar? Vamos
> > >>> todos para a cela especial por ter curso superior???
> > >>>
> > >>> A preocupação não é se coloca bloqueio ou não, mas se a casa cair quem
> > >>> vai em cana? Ou vamos mudar a lei antes????
> > >>>
> > >>> --
> > >>> Existem muitas semelhanças entre a colonização eletrônica e o
> > >>> sistema colonial antigo. [...] O sistema colonial recruta elites
> > >>> locais para conseguir subjugar o resto da população. Ao fornecer
> > >>> cópias grátis de seus softwares, que não são livres, para escolas,
> > >>> a Microsoft está usando a escola para criar uma futura dependência
> > >>> tecnológica na sociedade.
> > >>> Richard Stallman
> > >>> _______________________________________________
> > >>> Ead-l mailing list
> > >>> Ead-l at listas.unicamp.br
> > >>> http://www.listas.unicamp.br/mailman/listinfo/ead-l
> > >>>
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> > >> Designer Instrucional e Consultor em sistemas de ensino
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