[OLPC Brasil] Promover a industria nacional através do laptop para crianças?

Jaime Balbino jaimebalb at gmail.com
Mon Dec 18 11:29:31 EST 2006


Tenho visto surgir muitas propostas que defendem uma solução de
inclusão digitial "legitimamente nacional", contrapostas a propostas
"estrangeiras" como a patrocinada pela OLPC. A grande imprensa (num
viés nacionalista) e os industriais locais têm mantido esta posição,
que é louvável sob vários aspectos. No entanto percebo que há muito
desconhecimento dos reais motivos que levaram o "laptop de $100" ser
fabricado em Taywan, ao invés de nos países em que será aplicado,
gerando empregos, aquecendo e desenvolvendo a indústria local e
incrementando o conhecimento especializado.

Para aqueles que pensam que o motivo oculto é "gerar empregos em
Taywan", peço que revisem pré-conceitos e façam uma análise racional
da situação. Ficarei limitado ao caso brasileiro, com as
peculiaridades de sua tradição tecnológica e hábitos de consumo, já
que é isto que nos interessa discutir:

Sobre o desenvolvimento de uma "solução" nacional:
1. Isto só representaria incremento tecnológico se promovesse a
produção local de componentes e serviços. Não fabricamos telas, chips,
memórias flash e muito menos processadores. Também não detemos a
patente de nenhum destes componentes. Qualquer solução depende de
tecnologia estrangeira, é assim com o Classmate da Intel e com o
Cowboy que, apesar do discurso, utiliza os componentes e o "datasheet"
da Intel.

2. Em vista disto, o conhecimento agregado no desenvolvimento é
irrelevante e, no caso brasileiro, já bem dominado, como demonstra a
rapidez do próprio projeto Cowboy (1 ano de desenvolvimento).

3. No caso específico da OLPC, ela não só agrega como compartilha o
conhecimento gerado pelos seus colaboradores. A Nokia desenvolve a
conectividade aqui em Manaus, com pesquisadores brasileiros; o
brasileiro Marcelo Tosati, da Red Hat, adapta o Linux ao hardware;  o
desenvolvimento do monitor LCD de baixo consumo esteve a cargo de uma
das maiores especilistas na área e, mesmo que tivesse sido feito por
pesquisadores brasileiros (ou pudesse ser reproduzido por eles),
jamais poderia ser fabricado no Brasil. Porque não temos fábrica para
isso. Enfim, o "laptop de $100" já desenvolve e gera conhecimento e
invoção, através de empresas privadas, universidades e cidadãos; e de
uma maneira que a indústria e a universidade brasileira ainda não está
acostumada: ATRAVÉS DA COLABORAÇÃO E DE COMUNIDADES ABERTAS DE
CONHECIMENTO. Esta inovação no trabalho é muito mais relevante do que
qualquer novo conhecimento tecnológico que possa ser agregado, mesmo
porque tais conhecimentos, no caso da OLPC, são LIVRES.

Sobre a produção local de laptops destinados a crianças:
1. Não há inovação alguma em se montar componentes importados
localmente (seja em modelos baseados na OLPC ou em laptops
comerciais).
2. A geração de empregos diretos é irrisória
3. Enfim, não se promove nenhum novo círculo virtuoso econômico, além
do modelo já existente na indústria de computadores nacional.

O custo final do produto é o fator técnico mais crítico, pois o
inviabiliza de antemão. Isto prejudica desde sua adoção na política
educacional até o uso em sala de aula, já que valoriza o equipamento
em um eventual "mercado cinza" e aumentam os custos de manutenção e
descarte.

Integrar um modelo de desenvolvimento através deste novo mercado é
louvável, mas pelas características deste mesmo mercado esta focagem
pode inviabiliza a adoção de um modelo de mobilidade em educação no
ensino público, dada principalmente a elevação dos custos (fora
qualidade, atendimento, manutenção, e outros problemas típicos do
mercado nacional).

Para complementar esta análise (ainda um rascunho), sugiro a leitura
de um post meu no link:
http://www.haloscan.com/comments/aldemirsilva/116560109862397835/#52670.

Mas lembro que meus comentários não se tratam de uma defesa de um
modelo estrangeiro ou de empregos em Taiwan. Se quisermos pagar mais
para "defender a indústria nacional" em um projeto que contemple as
duas coisas, tudo bem. Mas acho que aplicaríamos melhor o custo extra
em um fundo de tecnologia (administrado pelo governo, indústrias e
sociedade) que de fato promovesse o desenvolvimento e não a montagem
de componentes (fábrica de chips, projeto de processadores,
estruturação de redes e outras áreas estratégicas)

Um abraço,

Jaime Balbino Gonçalves da Silva
http://www.dicas-l.com.br/educacao_tecnoloia
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Pedagogo e Técnico em Eletrônica
Campinas, SP - Brasil
jaimebalb at gmail.com


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