[OLPC Brasil] Críticas ao projeto OLPC de um professor
Jaime Balbino
jaimebalb at gmail.com
Mon May 21 08:50:08 EDT 2007
Roberto Fagá destaca a questão da corrupção. Não podemos ignorar isso, mas
não dá para discutir as possibilidades com esta premissa. Se formos recuar
por conta deste ponto tão emotivo e sempre citado pelos críticos não
faríamos mais nada. Nem a aplicação de qualquer nova pedagogia, que vai
sempre envolver recursos e, junto, a possibilidade de desvios públicos. Além
da chance de perda de foco, erros de aplicação, práticas equivocadas, etc...
Acho engraçada a necessidade humana de buscar sempre um "porto-seguro" para
se fixar. Em educação, pode-se trabalhar com agricultura, com artes, com
artesanato, com os ideogramas chineses... Tudo isso são constructos
técnicos. A agricultura foi a primeira grande intervenção do homem na
natureza, responsável pela desertificação da Babilônia e o início dos nossos
problemas com o aquecimento global.
Michelangelo não pintou a Capela Sistina em 7 dias utilizando só genialidade
e inspiração, como queremos fazer crer nossas crianças. Precisou de milhares
de estudos, desenvolveu técnicas, ferramentas, tintas, preparou-se e
desgastou-se fisicamente. O mesmo ocorreu com Leornardo Da Vinci.
Da mesma forma, a produção de utensílios de barro não é algo trivial para o
verdadeiro homem, há história, necessidade, sociedade e inspirações tão
nobres quanto as de Michelangelo e Da Vinci.
E, finalmente, a escrita, qualquer que seja ela, é um produto cultural e
técnico e totalitário, já que em determinado momento ela é menos construção
social e mais imposição de uma casta dita de iluminados.
Se tudo possui técnica, se tudo possui história, se tudo possui época e
contexto, por que só isto ou aquilo pode? Por que filtrar e esconder das
nossas crianças essa diversidade? Por que acreditar que elas são incapazes
de entender o mundo do seu jeito sem que soneguemos informação?
Se podemos ensinar as crianças a plantar, reproduzindo um conhecimento que a
mulher desenvolveu a milênios, podemos ensiná-las a utilizar o computador.
Não da mesma maneira que plantamos, pois são ações cognitivas e reflexivas
bem diferentes (se acharmos que é a mesma coisa, estaremos dando razão ao
nobre professor).
Isso me lembra um conto sobre um pólipo que vivia agarrado ao fundo do mar,
junto com seus pares, até que decidiu se soltar... Mas esta é outra
história.
Em 19/05/07, marta caputo <mvcaputo at yahoo.com.br> escreveu:
>
>
> Refletir e ser totalmente contra? Sem apresentar nenhumzinho argumento de
> porquê você é contra as colocações do Professor Setzer?! Como assim?! Sua
> postura é aquela do tipo "sou contra porque sou contra?" Afffff...
> Ele não poderia ter sido mais brilhante na exposição de seus argumentos,
> analisando tão acuradamente as muitas facetas de mais essa negociata escusa
> entre o governo brasileiro e a INTEL.
> São os homens do "puder" aqui dessa Banana Republic comprando sucata
> técnológica dos países do hemisfério norte, depois que o uso das mesmas já
> se comprovou inútil por lá. Apenas prá abocanhar o seu quinhãozinho, nas
> comiças, nas licitaçõezinhas...
> Acompanho as discussões desta lista há tempos. Nenhum projeto
> político-pedagógico que cause alento foi apresentado, até o momento, nem por
> parte do governo, nem por parte da INTEL.
> Infelizmente, creio que estamos sepultando qualquer possibilidade de
> oferecer as nossas crianças o direito a uma infância digna, alegre,
> saudável, segura, esperançosa, amorosa, cultivando princípios para uma
> existência mais humana.
> Se, ao invés de distribuir um laptop por aluno (o UCA devia se chamar
> URUCA - cedo ou tarde, a analogia será inevitável), pudéssemos promover às
> nossas crianças, aos seus pais e professores a oportunidade de frequentar
> uma escola da pedagogia Waldorf, ninguém ia querer saber de computador tão
> cedo! Porque numa escola Waldorf, as crianças aprendem a respeitar a
> natureza (as aulas de educação agrícola, plantar, colher, preparar os
> alimentos com aquilo que todos, juntos plantaram - e entenderam todos os
> muitos contextos envolvidos só nesse simples processo - para citar apenas
> um), os seus semelhantes e valores como a colaboração e a solidariedade,
> dentre muitos outros.
>
> O artigo do Prof. Setzer me trouxe pelo menos um alento: ainda existem
> seres pensantes que pensam com o auxílio luxuoso do coração...
>
> Bom fim de semana prá todos.
> Marta Caputo
>
> *Nathalia Sautchuk Patrício <nathalia.sautchuk at gmail.com>* escreveu:
>
> Leiam esse texto, é bem extenso, mas vale a pena nem que seja só para
> refletir e ser totalmente contra...
>
> http://www.ime.usp.br/%7Evwsetzer/um-laptop-por-crianca.html
>
>
>
> --
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Jaime Balbino Gonçalves da Silva
Designer Instrucional e Consultor em sistemas de ensino
Gestão, automação e adaptação em EAD
Pedagogo e Técnico em Eletrônica
Campinas, SP - Brasil
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