[OLPC Brasil] Intel Classmate x XO - vale a discussão?
Paulo Drummond
ptdrumm at terra.com.br
Wed May 2 00:09:20 EDT 2007
Caro Vitor Tokoro - GI,
Como você pode ter notado, a semente plantada pelo José Antônio deu
alguns frutos... Das suas colocações, anoto a seguir algumas
observações.
On Apr 30, 2007, at 6:21 PM, Vitor Tokoro - GI wrote:
> Em referência à transcrição (parcial) do artigo da Profa. Léa, eu não
> entendo porque um assunto de tamanha importância como inclusão social,
> geração de oportunidades, educação, melhoria na qualidade de vida das
> pessoas tem que ser tão polarizada.
observações:
1. A meta primordial do projeto NÃO É a inclusão social. Nem a
digital. Portanto, não é isso que se discute aqui. A meta primordial
do projeto é uma educação nova, uma pequena grande revolução que
propõe mudar radicalmente uma educação velha e mofada.
2. Em toda sociedade mais ou menos organizada há polarizações. São
necessárias. O debate é necessário. Nas maiores democracias do mundo
há debates. Em reuniões de cafezinho há polarizações. Se assim não o
fosse, correríamos o risco da mesmice ou de termos aquilo que não
queremos, do que não gostamos, de forma imposta, e sem termos tido a
oportunidade de discutir ou fazer alguém nos representar numa
discussão. Para um assunto importante como esse, quanto mais e
melhores discussões, mais refinada será a decisão.
> Somo um país de alfabetizados funcionais, um país que tem medo de
> acabar com
> o voto obrigatório porque acabaria com seu curral eleitoral e que
> onde, nós,
> que fazemos parte da elite que tem acesso a computadores e
> internet, que tem
> acesso à educação e à informação fica discutindo se esse computador ou
> aquela iniciativa é melhor do que a outra. Temos um cenário claro à
> nossa
> frente, que só não enxerga quem não quer, de extrema carência.
> Carência de
> educação, de saúde, de comida, de informação.
Cabe aqui a pergunta: Se essa chamada "elite" (que você anuncia) não
discutir o que pensa ser o melhor para que o país deixe de ser "de
alfabetizados funcionais", quem o fará?
> Neste Brasil que vivemos, o Brasil real, não o Brasil de fóruns e
> discussões
> filosóficas, tem espaço para TODAS iniciativas. Boas ou ruins.
> Existe um
> jogo de interesse por trás disso tudo? Claro, sempre há. Tanto para
> os que
> defendem o XO quanto para os que defendem o Classmate. Alguém (ou
> "alguéns")
> se dará bem se este ou aquele programa for posto em prática, mas o
> maior
> beneficiado no longo prazo será a coletividade.
observações:
1. Não concordo com o "TODAS iniciativas". Num processo de escolha de
um projeto de dimensões jamais vistas na nossa história recente, NÃO
HÁ lugar para TODAS as iniciativas. Em grandes desafios e
empreendimentos do mundo real, incluindo obviamente o Brasil real, é
estrategicamente importante filtrar, de início, aquelas alternativas
que não têm sustentação econômica ou que não têm fundamentação adequada.
2. Em qualquer atividade humana, há interesses em jogo. Neste caso
(do projeto OLPC), o que se quer é que esses "alguéns" que se dão bem
no final sejam exatamente as crianças. No mundo real, inclusive o
Brasil real, os sucessos de uma iniciativa aparentemente filantrópica
—que parte de uma sociedade capitalista — são medidos pelas variações
das cotações de mercado das frações das respectivas sociedades.
> Como se explica a uma criança que comer McDonald's faz mal e que é
> melhor
> ela comer aroz-com-feijão-bife-e-salada se ela nunca experimentou
> McDonald's? Todos têm o direito de experimentar. A mim me parece
> que aqueles
> que tentam influenciar o uso de determinada tecnologia
> idealísticamente
> deveria ter um pouco mais de grandeza de pensamento e abraçar TODAS as
> causas. O tempo se encarregará de criar uma base histórica para que
> se possa
> fazer um benchmarking adequado e, aí sim, tomar um determinado
> partido.
Perdoe-me, mas a primeira parte das afirmações acima parece um pouco
com a célebre frase de Maria Antonieta.
observações:
1. O benchmarking já está sendo feito há tempos. O Projeto UCA
considera fundamental a avaliação (em circunstâncias semelhantes e
mensuráveis) das várias propostas de modelos competidores, para poder
tomar a decisão certa no momento certo. A propósito, a equipe da
prof. Léa Fagundes é responsável por parte importantíssima deste
benchmarking.
2. O projeto OLPC não trata essencialmente de tecnologia. Ao
contrário, trata de uma nova proposta de educação. A discussão sobre
tecnologia é quase inócua neste fórum.
3. Por não conhecer bem os princípios pedagógicos que suportam a
iniciativa Classmate, não a discuto. Entretanto, em não havendo uma
proposta que realmente mude o 'status quo' dessa educação estagnada e
paquidérmica, de nada adianta mais um brinquedinho simpático na
corrida. E não nos iludamos: a Intel e a Microsoft estão nessa – cada
um a seu modo – exclusivamente para não perder seus respectivos
mercados. Dentro do espírito do capitalismo que as move, estão
certíssimas; esse é o seu papel.
> E aqui também faço a defesa de "marqueteiros" e administradores.
> Sem essas
> duas classes nenhuma das duas iniciativas acima citadas estariam
> aqui e esta
> discussão simplesmente não estaria acontecendo. O profissional de
> marketing
> estuda o mercado, coleta informações, faz análises de dados que
> podem ser
> usadas tanto para lançar um novo produto, uma nova estratégia ou
> eleger o
> presidente da república. Os administradores são profissionais que,
> como o
> próprio nome diz, gerem um negócio. Em ambas categorias a
> informação é a
> base de tudo e que, para quem não sabe, como em outras profissões,
> também
> faz usao da ciência . Saber usá-la sabiamente é um dom
>
> Por isso, acredito que pedagogos, pesquisadores, cientistas,
> "marqueteiros",
> administradores, tecnólogos e todas as outras profissões mereçam o
> devido
> respeito.
>
> "Marqueteiros "treinando" professores! A pedagogia da Intel ?
> grotesca!".
>
> Que frase é essa? E que tal:
>
> "Pedagogos criando processadores e computadores. A tecnologia dos
> educadores? Inexistente!"
>
> Nenhuma das duas faz sentido.
observações:
1. Não creio que tenha havido um ataque as aludidas profissões.
Entretanto, penso que vale aqui a velha máxima: "cada macaco no seu
galho". Se é para estudar a melhor forma da venda de uma idéia, de um
produto ou de um serviço, ou a melhor forma de convencer o próximo a
gostar para comprar e ter, use profissionais de marketing; se é para
educar — principalmente crianças — use educadores.
2. A partir do segundo parágrafo, quero crer que você seja um
administrador ou um defensor árduo e intransigente desta nobre
profissão; e se sentiu "mordido" com as afirmações publicadas. Pois
saiba que aqui na lista há de tudo um pouco. A maioria com um
propósito comum: querer uma educação melhor. Só.
3. O terceiro parágrafo é um desabafo um tanto forte do próprio José
Antônio. A partir daí, dois sofismas, a meu ver inteiramente
desnecessários.
observação final:
Saiba mais sobre o projeto, visitando http://laptop.org/pt
...
> Atenciosamente,
> Vitor Tokoro.
Paulo
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