[OLPC Brasil] Intel Classmate x XO - vale a discussão?

Juliano Bittencourt juliano at lec.ufrgs.br
Tue May 1 01:34:16 EDT 2007


 Caro Vitor e demais membros da lista,

     Ao ler o seu e-mail tentei imaginar os pressupostos que sustentavam 
a sua resposta e as suas críticas as opiniões que a Profa. Léa tornou 
públicas na reportagem da revista A Rede.

     Penso que sua posição deve-se a uma perda do contexto em que este 
projeto OLPC/UCA insere-se e da história da informática na educação no 
Brasil. Acho que você deveria pesquisar um pouco sobre a trajetória da 
profa. Léa na Internet, para saber refletir com mais clareza sobre as 
alegações que ela realizou na referida reportagem, principalmente 
pensado nos pressupostos nos quais ela sustenta seu discurso.

     Também tenho certeza que a profa. Léa não quis desrespeitar  
aquelas pessoas que dedicam-se ao Marketing. Entretanto, com base nas 
suas próprias definições da função do "marqueteiro", você deve concordar 
comigo que essa profissão insere-se no contexto de uma lógica 
corporativa e de mercado. E ai devo trazer o seu primeiro equivoco, 
aliás muito comum nas pessoas que acompanham esse projeto. Esse não é um 
projeto que se enquadra em uma lógica de mercado (apesar de não existir 
sem alguns compromissos com ela). Trata-se mais de um *projeto 
humanitário* para possibilitar o desenvolvimento intelectual a milhões 
de crianças, cujas condições do ambiente onde vivem não proporcionam os 
elementos necessários para tal. Nesse sentido, é um projeto de melhoria 
da qualidade da educação, não de inclusão digital.

     Sobre a questão dos marqueteiros com pretenções de professores, 
acredito tratar-se isso de um desabafo da profa. Léa em relação a como 
são tratados os pesquisadores e profissionais de educação no Brasil e no 
mundo. Por todos nós termos passado por um processo de escolarização, 
julgamo-nos, na maioria das vezes, aptos a opinar com propriedade sobre 
educação. Isso fica evidente seja quando conversamos com os professores 
dos nossos filhos ou em listas como essa. A profa. Léa tem mais de 55 
anos de envolvimento com educação, 25 como professora e mais 30 como 
pesquisadora da universidade. É profunda conhecedora dos processos de 
aprendizagem do ser humano e, apesar de ter escolhido a teoria de Piaget 
como principal referência teórica, também entende muito sobre os 
pressupostos fundantes da escola (tradicional) na modernidade. Ela 
compreende como poucas pessoas os campos de matemática, lógica e 
linguística, esta última principalmente no que se refere ao 
desenvolvimento da linguagem na criança. Se existem algumas pessoas no 
Brasil capazes de opinar com propriedade sobre propostas pedagógicas no 
uso do computador na educação, com certeza ela é uma delas.

Acredito que a sua frase abaixo é um bom ponto de referência:

"Pedagogos criando processadores e computadores. A tecnologia dos
educadores? Inexistente!"


Questiono-me se alguém em sã conciência contrataria um pedagogo para 
construir um computador. Nesse sentido, concordo com o que você fala, de 
que o conhecimento sobre tecnologia dos educadores em relação as 
necessidades técnicas para o desenvolvimento de um professador ou 
computador é tão pequena, que é praticamente inexiste. Mas o inverso 
também não seria verdadeiro? De que os conhecimentos sobre educação dos 
técnicos, marqueteiros, administradores, etc, é tão superficial e 
centrado em suas experiências pessoais que poderia ser considerado 
inexistente?

Por último gostaria de esclarecer a importância da existência de uma 
proposta pedagógica adequada para o projeto UCA, indiferente da escolha 
do equipamento. O ser humano tem uma forte tendência a conservação. Da 
mesma forma, nossas instituições tendem muito mais a conservação do que 
a inovação. Mesmo dentro da tecnologia, como seguido nos lembra Alan 
Kay, muito pouco de realmente revolucionário se realizou nos últimos 25 
anos. Hoje apenas colhemos os frutos dos pioneiros do passado. Se 
colocarmos laptops apenas na escola, sem uma proposta associada, a 
instituição escolar acabará por absorver esses equipamentos nos seus 
moldes de funcionamento atual. Não haverá ruptura e, consecutivamente, 
não ocorrerá inovação nem significativa qualificação da educação. 
Precisamos de um modelo 1:1 que represente a ruptura com a escola do 
passado e a construção de um novo modelo de escola.

Concordo com você que não existe a necessidade de polarização. Mas 
discordo na sua compreensão sobre esse termo: polarização. Acho que 
seria salutar a existência de alternativas ao XO. Entretanto, penso que 
essas iniciativas também devem ser fruto de uma iniciativa para 
construir um equipamento voltado para educação, sustentado por pesquisas 
sobre a inserção do computador no processo de aprendizagem do aluno. Mas 
penso que a sua visão sobre polarização refere-se  a não opção clara por 
modelo X ou Y.  Nesse sentido penso que temos a obrigação de trazer para 
a discussão nossas opiniões sustentadas por fatos.

Desculpe-me se me estendo demais. Também peço desculpas caso tenha sido 
indelicado em algum momento. Entretanto, também gostaria de pedir um 
pouco mais de sensibilidade ao expressar algumas de suas opiniões 
referentes a Profa. Léa. Não sei se foi esse o seu intuito, acredito que 
não, mas certas observações em seu e-mail poderíam ser consideradas 
ofensivas, falando que as falas da profa. a citada revista nascem de 
"traumas" e "frustrações", sendo que as opiniões da Léa sustentam-se em 
pesquisas realizadas desde 1982 sobre a uso do computador para o 
desenvolvimento intelectual de crianças de escolas públicas.

Atenciosamente,


Juliano Bittencourt




Vitor Tokoro - GI escreveu:
> Em referência à transcrição (parcial) do artigo da Profa. Léa, eu não
> entendo porque um assunto de tamanha importância como inclusão social,
> geração de oportunidades, educação, melhoria na qualidade de vida das
> pessoas tem que ser tão polarizada. 
>
> Somo um país de alfabetizados funcionais, um país que tem medo de acabar com
> o voto obrigatório porque acabaria com seu curral eleitoral e que onde, nós,
> que fazemos parte da elite que tem acesso a computadores e internet, que tem
> acesso à educação e à informação fica discutindo se esse computador ou
> aquela iniciativa é melhor do que a outra. Temos um cenário claro à nossa
> frente, que só não enxerga quem não quer, de extrema carência. Carência de
> educação, de saúde, de comida, de informação.
>
> Neste Brasil que vivemos, o Brasil real, não o Brasil de fóruns e discussões
> filosóficas, tem espaço para TODAS iniciativas. Boas ou ruins. Existe um
> jogo de interesse por trás disso tudo? Claro, sempre há. Tanto para os que
> defendem o XO quanto para os que defendem o Classmate. Alguém (ou "alguéns")
> se dará bem se este ou aquele programa for posto em prática, mas o maior
> beneficiado no longo prazo será a coletividade. 
>
> Como se explica a uma criança que comer McDonald's faz mal e que é melhor
> ela comer aroz-com-feijão-bife-e-salada se ela nunca experimentou
> McDonald's? Todos têm o direito de experimentar. A mim me parece que aqueles
> que tentam influenciar o uso de determinada tecnologia idealísticamente
> deveria ter um pouco mais de grandeza de pensamento e abraçar TODAS as
> causas. O tempo se encarregará de criar uma base histórica para que se possa
> fazer um benchmarking adequado e, aí sim, tomar um determinado partido.
>
> E aqui também faço a defesa de "marqueteiros" e administradores. Sem essas
> duas classes nenhuma das duas iniciativas acima citadas estariam aqui e esta
> discussão simplesmente não estaria acontecendo. O profissional de marketing
> estuda o mercado, coleta informações, faz análises de dados que podem ser
> usadas tanto para lançar um novo produto, uma nova estratégia ou eleger o
> presidente da república. Os administradores são profissionais que, como o
> próprio nome diz, gerem um negócio. Em ambas categorias a informação é a
> base de tudo e que, para quem não sabe, como em outras profissões, também
> faz usao da ciência . Saber usá-la sabiamente é um dom.
>
> Por isso, acredito que pedagogos, pesquisadores, cientistas, "marqueteiros",
> administradores, tecnólogos e todas as outras profissões mereçam o devido
> respeito.
>
> "Marqueteiros "treinando" professores! A pedagogia da Intel ? grotesca!". 
>
> Que frase é essa? E que tal: 
>
> "Pedagogos criando processadores e computadores. A tecnologia dos
> educadores? Inexistente!"
>
> Nenhuma das duas faz sentido. 
>
> Gosto deste fórum, mas vamos deixar os preconceitos raciais, sociais,
> sexuais, profissionais e quaisquer outros do lado de fora. Cada um que lide
> com suas próprias frustrações e traumas.
>
> Vamos fazer deste espaço um celeiro de idéias sem travas visando o benefício
> maior que é ver nossas crianças terem acesso à educação e à informação. Não
> tiro o mérito de um método de ensino voltado ao melhor aproveitamento da
> tecnologia, mas como já disse e provou o Prêmio Nobel da Paz, Prof. Muhammad
> Yunus com seu Grameen Bank e sua Telefônica Grameen, dê oportunidade aos
> pobres de acesso à tecnologia e você estará lhes abrindo uma imensa e
> fascinante janela para o mundo. Eles se encarregarão de criar um novo
> mercado com novos modelos de uso.
>
>
> Atenciosamente,
> Vitor Tokoro.     
>
> -----Mensagem original-----
> De: brasil-bounces at laptop.org [mailto:brasil-bounces at laptop.org] Em nome de
> brasil-request at laptop.org
> Enviada em: segunda-feira, 30 de abril de 2007 13:00
> Para: brasil at laptop.org
> Assunto: Brasil Digest, Vol 14, Issue 33
>
> Send Brasil mailing list submissions to
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> Date: Sun, 29 Apr 2007 21:48:04 -0100
> From: " Jos? Antonio " <joseantoniorocha at gmail.com>
> Subject: [OLPC Brasil] Classmate j? tem rede mesh em Pira?
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