[OLPC Brasil] Re: Brasil Digest, Vol 12, Issue 17
Denise Vilardo
dvilardo at gmail.com
Fri Feb 16 22:28:33 EST 2007
Vamos tentar... seguir a proposta de uma discussão mais metodológica.
Será bom iniciar recuperando a idéia básica de que tecnologia - a grosso
modo - é tudo o que o homem produz pra facilitar a vida dele nesse mundo.
Portanto, desde o tempo do machado, passando pela roda, pela frigideira,
pelo lápis, pela máquina de lavar roupa e pelo secador de cabelo até... a
parafernália eletrônica e digital...
Seguindo esse raciocínio, as pequenas máquinas também devem cumprir esse
papel: a de tornar a nossa vida melhor, qualitativamente falando.
Ou seja, como daremos melhores aulas e como os alunos aprenderão com mais
eficiência, utilizando as benditas?
A máquina é a máquina, está aí, com mil possibilidades e ampliando
exponencialmente essas possibilidades diariamente.
Nesse momento, cabe insistir num ponto: não há projeto de educação, sem um
projeto de sociedade. O que queremos? Onde queremos chegar? Pra quê?
Essas respostas nortearão todo o "como fazer", que é a discussão
metodológica que se faz tão necessária.
Nem é tão difícil assim de pensar...
Se queremos ter, lá na frente, uma sociedade de "vacas de presépio", de
seres não pensantes, é só continuarmos a fazer o que já estamos fazendo há
muito. É só continuar repetindo a fórmula que vem dando tão certo...
profissionais desqualificados, preparados pela academia de maneira a
continuar reproduzindo esse modelo desde o início do século passado;
condições precaríssimas de trabalho (desde salas de aula sem iluminação até
turmas de 50 crianças onde cabem 25...); relações de trabalho baseadas em
autoritarismo e não em competência; tomadas de decisões individualistas onde
perde-se completamente o foco que é o aluno; salas de leitura e laboratórios
de informática que não são abertos para os alunos, para não estragar o
material... e por aí vai... a lista é grande.
Isso tudo aliado ao fato de ainda não se perceber a provisoriedade do
conhecimento e de que não há mais "donos do saber".
Nesse caso, é só continuar utilizando os livros didáticos que já existem (e
que já vêm com as respostas dos exercícios prontas, pro professor não
precisar queimar neurônios - ou por acreditar que nós nem temos isso), ou
mandando os meninos copiarem o "arme e efetue" do quadro, ou ainda - numa
perspectiva de modernidade - pedir que os alunos pesquisem "na internet" o
"período colonial brasileiro" e ficar todos muito chateados porque eles
"copiaram e colaram"...
Agora, se queremos ter, lá na frente, seres pensantes que atuem de maneira
conseqüente e digna numa sociedade que se imagina que possa ser mais
razoável do que a que estamos vivendo, tem que se mexer em tudo!
Desde a (re)qualificação contínua dos profissionais da educação, passando
pelas condições físicas das escolas, pelas relações solidárias entre as
pessoas que lá atuam (não dá pra acreditar que todos passarão a trabalhar
numa perspectiva colaborativa apenas quando se encontrarem diante das
máquinas...), até a rotina de trabalho dentro das classes (pensando a
metodologia).
E aí, se queremos que os meninos pensem, temos que ensinar a pensar! Temos
que ser curiosos, para sermos capazes de instigar a curiosidade deles, temos
que tentar acompanhar, todo o tempo, a lógica de cada raciocínio que
resultou em alguma resposta, ou que ocasionou alguma pergunta, para poder
mediar esse raciocínio.
Pensar as pequenas máquinas como objeto não apenas de acesso às informações
- o que já é bom demais, na medida em horizontaliza esse acesso, rompendo
com a lógica do "eu sei, você não sabe, portanto eu tenho mais poder que
você..." - mas também como lugar de produção de conhecimento, onde os
meninos devem ser levados a criar suas próprias conclusões, a criar soluções
para situações problematizadoras, tendo como pano de fundo todo o
conhecimento já armazenado e facilmente localizado.
A metodologia? É por aí... partindo de uma situação contextualizada ao
universo do aluno, problematizada, desafiadora, refletir sobre ela e chegar
a algumas conclusões, provisórias... e, se possível, com propostas de
solução. Isso pode ser feito ao se analisar um texto incoerente, para
torná-lo coerente... com uma expressão matemática, onde se busque um
contexto situacional para expressá-la... com uma reflexão sobre a falta de
água e seus efeitos sobre o meio ambiente... com provocações curiosas sobre
a história e a geografia do nosso país e do mundo, além de passeios sobre o
corpo humano e o mundo das artes.
E... caramba! O que não falta são programas pra nos ajudar a fazer isso de
maneira mais organizada, mas bonita, mais rápida...
Isso não é fácil, porque não aprendemos, absolutamente, a fazer desse jeito.
Portanto, não há história para ser copiada. Tem história pra ser construída.
Mas não tenho a menor dúvida de que estamos com uma grande oportunidade
diante de nós: reconstruir esse país com o apoio inequívoco da educação e
com as pequenas máquinas nos ajudando a pensar, e a ensinar a pensar de
maneira mais eficaz.
Ah, antes que eu me esqueça, os PCNs, através das suas diretrizes apontam de
maneira bastante coerente e conseqüente para uma sociedade pensante. Tem é
que sair do papel... e começar a virar atitude.
Grande abraço para todos
Denise Vilardo
Date: Fri, 16 Feb 2007 00:01:17 -0200
> From: Paulo Drummond < ptdrumm at terra.com.br>
> Subject: Re: [OLPC Brasil] OLPC: "algu?m" ficou de fora e est?
> enciumado...
> To: OLPC Brasil <Brasil at laptop.org>
> Cc: laptop100-commits < laptop100-commits at incubadora.fapesp.br>
> Message-ID: <35F9B630-A5AA-46CE-8FD2-DE278BF85ECF at terra.com.br >
> Content-Type: text/plain; charset="windows-1252"
>
> A entrevista foi para a revista Time, não para o NYT. Mas isso é o de
> menos; o que importa é que o Sr. Gates, como de resto a imensa
> maioria das pessoas que se arvoram a falar do (e criticar o) projeto
> insistem em falar da tecnologia, do aparelho, esquecendo-se que o
> projeto em si (nmmo) é muito mais metodológico que tecnológico.
>
> Aqui mesmo nessa lista - e eu também dou a mão à palmatória - a
> discussão é predominantemente sobre tecnologia eletrônica e/ou
> digital. Em pouquíssimos momentos discutiu-se o aspecto metodológico,
> aquele em que se dicute o como e não o com o que se fará a pretendida
> revolução educacional.
>
> O Sr. Gates diz, a dado momento da entrevista, que limita o número de
> horas que seu filho deve usar o computador. Quando o desapontado
> filho lhe pergunta se "isso será assim durante a vida toda?",
> complementa dizendo que "em uma certa idade ele [o filho] poderá
> pagar pelo seu próprio compudator." Me foi muito difícil interpolar
> as duas frases, mas não chego a lamentar a sorte do pequeno Rory.
> Mais me parece o caso clássico faça o que eu digo e não faça o que eu
> fiz...
>
> O projeto OLPC foi pensado para crianças a partir da idade do filho
> do Sr. Gates. E pensando que crianças nessa idade gostam de brincar
> de imitar, montar e construir; e que brincando com o brinquedo
> adequado, elas podem aprender aprendendo a aprender. Não me
> surpreenderia se o Sr. Gates adquirisse algo no gênero do XO (ou o
> próprio, talvez) para dar ao pequeno Rory.
>
> Adiante, diz – "uma das próximas coisas que estamos [Microsoft
> Research] atrás é o livro didático, porque se você pega todo o
> dinheiro posto em livros didáticos e o investe em 'tablet devices'
> para todas as crianças, elas carregam menos peso. Eles podem ser
> facilmente personalizados, mais interativos."
>
> Onde será que eu li ou ouvi isso antes?
>
> Finalmente, diz – "...até a explosão da Internet há 10 anos, a
> tecnologia ainda não tinha causado nenhum impacto na educação."
> Really, Mr. Gates? De novo, a palavra tecnologia surge como sinônimo
> da parafernália eletrônica e digital. Tecnologia, para um incontável
> número de pessoas, parece ser sinônimo de computador e seus
> derivados, ou de cacarecos eletrônicos de toda sorte.
>
> Uma pergunta que não quer calar: quanto tempo levou, da instituição
> do lápis de grafite como instrumento de desenho e escrita (séc. XVI),
> até o dia em que popularmente crianças puderam usá-lo para se
> expressar? Outra: e quanto tempo os livros levaram, desde Aldus
> Manutius (pra não falar só de Gutemberg) até ocuparem as estantes das
> bibliotecas de escolas fundamentais? Mais uma: por que demoraram tanto?
>
> Lápis de grafite e livros portáteis estão no topo da minha lista das
> tecnologias mais notáveis dos últimos cinco séculos.
>
> Sintetizando a réplica, fica a sugestão para que novos tópicos sejam
> focados menos na tecnologia (é.. eu sei que é fascinante) e mais na
> metodologia proposta (que também é muito fascinante).
>
> Paulo
>
> On Feb 15, 2007, at 8:38 PM, José Antonio wrote:
>
> > Deu no NYT, em entrevista com o homem mais rico do mundo:
> > Education is a big focus for you. So, is there better learning
> > through technology?
> >
> > It's important to be humble when we talk about education, because
> > TV was going to change education and videotape was going to change
> > it and computer-aided instruction was going to change it. But until
> > the Internet exploded 10 years ago, technology really hadn't made a
> > dent in education at all. Learning is mostly about creating a
> > context for motivation. It's about why should you learn things.
> > Technology plays a role, but it's not a panacea.
> >
> > Technology can help, but it always has to be technology that
> > understands the difficult conditions. Are computers in developing
> > countries going to change their education system? In a lot of
> > countries it's more: Are there classrooms, are there teachers, is
> > there electricity? Taking new technology and trying to impose it on
> > developing countries--that's crazy.
> >
> > Via The Biz of Knowledge
> > #end--
> > nome: "José Antonio Meira da Rocha" tratamento: "Prof. MS."
> > atividade: "Pesquisa e aprendizado em mídias digitais"
> > googletalk: email: MSN: joseantoniorocha at gmail.com
> > ICQ: 658222 Skype: "meiradarocha_jor"
> > sites: [ http://meiradarocha.jor.br http://olpcitizen.blogspot.com ]
>
>
> Message: 4
> Date: Fri, 16 Feb 2007 00:37:53 -0200
> From: " Jos? Antonio " <joseantoniorocha at gmail.com>
> Subject: Re: [Laptop100-commits] Re: [OLPC Brasil] OLPC: "algu?m"
> ficou de fora e est? enciumado...
> To: "OLPC Brasil" <Brasil at laptop.org>
> Message-ID:
> < e1fc705b0702151837n180887ej27b996c371e4b294 at mail.gmail.com>
> Content-Type: text/plain; charset="iso-8859-1"
>
> On 2/16/07, Paulo Drummond <ptdrumm at terra.com.br > wrote:
> >
> >
> > Aqui mesmo nessa lista - e eu também dou a mão à palmatória - a
> discussão
> > é predominantemente sobre tecnologia eletrônica e/ou digital. Em
> > pouquíssimos momentos discutiu-se o aspecto metodológico, aquele em que
> se
> > dicute o *como* e não o *com o que* se fará a pretendida revolução
> > educacional.
> >
>
> É mesmo, eu também... mas talvez seja só o momento. Acho que essa
> discussão
> sobre metodologia explodirá em 2007/2 e 2008, quando o projeto for
> aplicado.
>
>
> Uma pergunta que não quer calar: quanto tempo levou, da instituição do
> lápis
> > de grafite como instrumento de desenho e escrita (séc. XVI), até o dia
> em
> > que popularmente crianças puderam usá-lo para se expressar? Outra: e
> quanto
> > tempo os livros levaram, desde Aldus Manutius (pra não falar só de
> > Gutemberg) até ocuparem as estantes das bibliotecas de escolas
> fundamentais?
> > Mais uma: por que demoraram tanto?
> > Lápis de grafite e livros portáteis estão no topo da minha lista das
> > tecnologias mais notáveis dos últimos cinco séculos.
> >
>
> Pô, a minha mãe foi alfabetizada com louza, aos seis anos de idade. Isso
> devia ser 1927, por aí. Lápis e caderno de papel, pra ela, foi um grande
> avanço.
>
> Uma vez passei a noite lendo sobre o lápis (na internet, claro. Onde eu
> acharia livros sobre lápis?). É muito legal a história dele, a confusão do
> grafite da minas inglêsas com chumbo (por isso o grafite de lápis se chama
>
> lead, em inglês, e "mina", em português).
>
> Sintetizando a réplica, fica a sugestão para que novos tópicos sejam
> focados
> > menos na tecnologia (é.. eu sei que é fascinante) e mais na metodologia
> > proposta (que também é muito fascinante).
> >
>
> A minha grande dúvida é como criar atividades didáticas para o projeto.
> Não
> o que o OLPC chama de atividade, mas, digamos, o que o MEC chmaria de
> atividade...
>
> --
> nome: "José Antonio Meira da Rocha" tratamento: "Prof. MS."
> atividade: "Pesquisa e aprendizado em mídias digitais"
> googletalk: email: MSN: joseantoniorocha at gmail.com
> ICQ: 658222 Skype: "meiradarocha_jor"
> sites: [ http://meiradarocha.jor.br http://olpcitizen.blogspot.com ]
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> _______________________________________________
On Feb 16, 2007, at 12:37 AM, José Antonio wrote:
> On 2/16/07, Paulo Drummond <ptdrumm at terra.com.br> wrote:
>
> Aqui mesmo nessa lista - e eu também dou a mão à palmatória - a
> discussão é predominantemente sobre tecnologia eletrônica e/ou
> digital. Em pouquíssimos momentos discutiu-se o aspecto
> metodológico, aquele em que se dicute o como e não o com o que se
> fará a pretendida revolução educacional.
>
> É mesmo, eu também... mas talvez seja só o momento. Acho que essa
> discussão sobre metodologia explodirá em 2007/2 e 2008, quando o
> projeto for aplicado.
Esse é o receio... Por que não começar a discutir antes da aplicação?
> A minha grande dúvida é como criar atividades didáticas para o
> projeto. Não o que o OLPC chama de atividade, mas, digamos, o que o
> MEC chmaria de atividade...
Nmmo, a atividade e conteúdo curricular são o que tem de ser
discutido. Não creio que o MEC tenha a responsabilidade sobre a
caracterização das atividades dos agraciados pelo laptop, ou mesmo
que defina o termo atividade em si. Poderá, talvez, promover
discussões a respeito das turmas "com laptop", que se diferenciariam
das "sem laptop", em âmbito nacional e regional. Mas elas dependerão
essencialmente dos projetos políticos-pedagógicos, estes de
responsabilidade das unidades escolares, eventualmente reforçados
pelos Conselhos Escolares.
A LDB (9394/96) dá uma grande liberdade e autonomia para a execução
da Educação Básica. As amarrações para a questão de conteúdo
curricular da EB são previstas nos respectivos PCN e nas respectivas
DCN. Talvez, seja analisando esses dois documentos, que se possa
avaliar as possíveis e prováveis diferenças que virão a existir entre
as atividades dos "com" e dos "sem".
Paulo
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