Re: [OLPC Brasil] Só ganhariam se houvesse "tapetão"

Jaime Balbino jaimebalb at gmail.com
Thu Feb 8 06:20:59 EST 2007


Concordo plenamente com você, Américo. Também imaginava isso. Você
ajudou a cobrir algumas lacunas no meu raciocínio, principalmente com
relação a visão da IBM sobre o mercado de PCs.

É curioso, porque a HP conseguiu manter a perspectiva de
alta-qualidade em suas calculadoras mesmo com a diversificação do
mercado. E ela conseguiu aderir também, de forma competitiva, a este
paradigma de "baixa-qualidade" dos PCs sem diminuir sua atuação em
outros mercados mais exigentes (médico, por exemplo).

É curioso também porque ela não aceitou o projeto de computador
pessoal de seu funcionário
Steve Wosniak. Daí saiu a Apple. Que mais tarde chegou a dar garantia
para "toda a vida" em seus produtos.

Olhar a história dos microcomputadores sob o paradigma da qualidade
traz outras perspectivase levanta outras questões.

Valeu Américo!
Jaime Balbino.


Em 08/02/07, Americo Damasceno<adamascj at hotmail.com> escreveu:
>
>
>
>
> Jaime,
>
> Nós da IBM (digo isso por ter passado toda a minha vida profissional lá,
> apesar de hoje estar aposentado) tínhamos um compromisso com um padrão de
> qualidade muito alto. Nossa visão de engenharia de computador era como a
> visão do engenheiro aeronautico: a possibilidade de falha tem que ser
> mínima. Como se faz isso? Quando você entra na cabine de um avião acha que
> está vendo uns 500 reloginhos diferentes. Não são 500, são 250. Tudo é
> duplicado porque se um falhar o outro garante. Num mainframe IBM (que foram
> as máquinas com que trabalhei mais) quase tudo é duplicado ou triplicado. A
> confiabilidade é maior que 99 porcento. Por isso um mainframe custava mais
> de 1 milhão de dólares. Quando se resolveu criar o IBMPC, nós não
> acreditávamos num uso comercial duma máquina que tinha um grau de
> confiabilidade tão baixo. Igualmente não acreditávamos no uso comercial da
> internet, que até hoje,, todo mundo sabe,   é completamente insegura. Víamos
> tanto o PC quanto a Internet como viáveis para uso por estudantes,
> professores, hobbyistas etc.
>
> O mercado, o público em geral, no entanto ficou fascinado (e ainda é
> fascinado até hoje) com o uso de computadores. Realmente é fascinante mesmo.
> Apesar de estar no ramo desde 1969 (quase 40 anos!) ainda me entusiasmo com
> coisas que aparecem como rede mesh etc. E o público aceitou trabalhar com
> produtos de baixa qualidade (é claro que essa qualidade vem melhorando). E
> houve um boom de vendas de PC para empresas. Quando a IBM viu que isso
> estava acontecendo, tentou criar um PC com uma qualidade um pouco melhor (e
> com uma arquitetura e sistema operacional proprietários). Não funcionou. Foi
> como o caso do BetaMax e do VHS. A Sony criou os dois formatos. O BetaMax
> era bem superior e ela liberou o VHS para o mercado. Não achou que uma
> porcaria daquelas ia fazer grande sucesso. Poderia atingir um mercado de
> baixo preço, apenas. Que não é o "mercado Sony". Mas o VHS se disseminou e
> matou o BetaMax.
>
> Hoje, a visão da IBM (é o que acho; não sou autorizado para falar em nome da
> IBM, claro - é apenas a constatação do que observo) é de que
> micro-computador é uma commodity. É como gasolina. Toda gasolina, de
> qualquer posto, é 99 porcento igual.  E uma commodity tem sempre uma margem
> de lucro muito baixa, porque o número de players no mercado não tem limites.
> Assim, a IBM está se  transformando, cada dia mais, numa empresa de serviços
> e não de venda de máquinas. No último anos, serviços já passou de 60 por
> cento no total do seu lucro. Ela continua fabricando seus mainframes (para
> quem precisa de máquinas  com alta confiabilidade) e projetos especiais como
> o hardware de consoles de games, aparelhos médicos etc.
>
> Mas, voltando ao nosso XO: partindo dessa idéia de que micro-computador é
> uma commodity, fácil de fazer igual, é  que vejo o marketing da Intel um
> pouco equivocado se estão tentando concorrer com o XO. Imagine que você abra
> uma cadeia de postos de gasolina sem fins lucrativos. Não dá para concorrer.
> O ClassMate optou por uma configuração mais potente (e mais cara) que o XO.
> Mas eles podem fazer um clone do XO, se quiserem. Assim como a OLPC Inc.
> pode fazer um clone do ClassMate se quiser. O diferencial aqui é que a OLPC
> Inc. não visa lucro. Assim, não é fácil concorrer com ela. É claro que a
> Shell pode dizer que sua gasolina tem ICA ou DNA ou qualquer outra tentativa
> de diferenciar seu produto, mas a realidade é que é toda gasolina é 99
> porcento igual.
>
> O que eu acho é que a Intel está tentando minar a idéia de que um computador
> "pelado", de baixa sofisticação também é viável. Isso contraria toda um
> planejamento de marketing de puxar o mercado sempre para coisas mais
> sofisticadas. Eu me lembro que a gente comentava na IBM sobre o
> micro-computador: "Isso é uma fria em termos de negócio, vai virar relógio
> ou calculadora". E tentávamos (agora se conseguiu) sair fora disso. Meu
> palpite é que micro-computador vai "virar relógio" e daqui a pouco vai ter
> camelô vendendo XO-likes a 50 reais na Avenida Paulista.
>
> Se a Intel  e Microsoft não acordarem a tempo e sairem dessa (como a IBM
> saiu) suas ações podem virar mico.
>
> Quem viver verá.
>
> ________________________________
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-- 
Jaime Balbino Gonçalves da Silva
Designer Instrucional e Consultor em sistemas de ensino
Gestão, automação e adaptação em EAD
Pedagogo e Técnico em Eletrônica
Campinas, SP - Brasil
jaimebalb at gmail.com


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