[OLPC Brasil] Intel Classmate x XO - vale a discussão?

José Antonio joseantoniorocha at gmail.com
Mon Apr 30 18:44:39 EDT 2007


Olá, Vitor!

On 4/30/07, Vitor Tokoro - GI <vitor.tokoro at grupointegracao.com.br> wrote:
>
> Em referência à transcrição (parcial) do artigo da Profa. Léa, eu não
> entendo porque um assunto de tamanha importância como inclusão social,
> geração de oportunidades, educação, melhoria na qualidade de vida das
> pessoas tem que ser tão polarizada.


Justamente por ser tão importante, e com tanto dinheiro envolvido, é que há
-- e deve haver -- polarização. Polarização entre o século 19 e o século 21.
Polarização entre projeto educacional sério, embasado por dezenas de
pesquisas, e projeto de marketing feito às pressas.

Haverá muito poucas vantagens em se usar ferramentas de comunicação digital
(computadores, em outras palavras) para reproduzir a escola atual. Pesquisas
recentes nos EUA já mostram que usar essas máquinas dentro de uma pedagogia
obsoleta não melhora o desempenho dos alunos. Ou seja: gasta-se muito para
os mesmos resultados obtidos com quadro-verde e livros de papel.

Neste Brasil que vivemos, o Brasil real, não o Brasil de fóruns e discussões
> filosóficas, tem espaço para TODAS iniciativas. Boas ou ruins. Existe um
> jogo de interesse por trás disso tudo? Claro, sempre há. Tanto para os que
> defendem o XO quanto para os que defendem o Classmate. Alguém (ou
> "alguéns")
> se dará bem se este ou aquele programa for posto em prática, mas o maior
> beneficiado no longo prazo será a coletividade.
>
> Como se explica a uma criança que comer McDonald's faz mal e que é melhor
> ela comer aroz-com-feijão-bife-e-salada se ela nunca experimentou
> McDonald's? Todos têm o direito de experimentar. A mim me parece que
> aqueles
> que tentam influenciar o uso de determinada tecnologia idealísticamente
> deveria ter um pouco mais de grandeza de pensamento e abraçar TODAS as
> causas. O tempo se encarregará de criar uma base histórica para que se
> possa
> fazer um benchmarking adequado e, aí sim, tomar um determinado partido.
>
> E aqui também faço a defesa de "marqueteiros" e administradores. Sem essas
> duas classes nenhuma das duas iniciativas acima citadas estariam aqui e
> esta
> discussão simplesmente não estaria acontecendo. O profissional de
> marketing
> estuda o mercado, coleta informações, faz análises de dados que podem ser
> usadas tanto para lançar um novo produto, uma nova estratégia ou eleger o
> presidente da república. Os administradores são profissionais que, como o
> próprio nome diz, gerem um negócio. Em ambas categorias a informação é a
> base de tudo e que, para quem não sabe, como em outras profissões, também
> faz usao da ciência . Saber usá-la sabiamente é um dom.


Nada contra administradores. Pelo contrário, precisamos muito, e cada vez
mais, de administradores (definitivamente, as pessoas não precisam de
marqueteiros).

Por isso, acredito que pedagogos, pesquisadores, cientistas, "marqueteiros",
> administradores, tecnólogos e todas as outras profissões mereçam o devido
> respeito.
>
> "Marqueteiros "treinando" professores! A pedagogia da Intel é grotesca!".
>
> Que frase é essa? E que tal:
>
> "Pedagogos criando processadores e computadores. A tecnologia dos
> educadores é Inexistente!"
>
> Nenhuma das duas faz sentido.


Foi exatamente isto que eu disse! Não há pedagogas criando processadores,
mas há marqueteiros infiltrados na seara pedagógica. Você tem razão, não faz
sentido, a não ser que a empresa não esteja preocupada com educação, mas
apenas com vendas.

Gosto deste fórum, mas vamos deixar os preconceitos raciais, sociais,
> sexuais, profissionais e quaisquer outros do lado de fora. Cada um que
> lide
> com suas próprias frustrações e traumas.


Ora, não dramatize! :)

Vamos fazer deste espaço um celeiro de idéias sem travas visando o benefício
> maior que é ver nossas crianças terem acesso à educação e à informação.
> Não
> tiro o mérito de um método de ensino voltado ao melhor aproveitamento da
> tecnologia,


Este é o ponto! O "projeto pedagógico" da Intel (não é da Intel, é da
Positivo) só troca o quadro-verde por uma telinha. Isso não é aproveitar a
tecnologia, mas sub-aproveitar. UCA é um projeto muito caro para ficar só na
reprodução de professores-robôs e alunos-automáticos.

Colocar material didático com testes no final é um uso interessante, assim
como livros digitais, mas é só uma palhinha na enorme capacidade
comunicativa da tecnologia de redes digitais. A "pedagogia" da Intel
simplesmente ignora as possibilidades de criação coletiva e de redes
colaborativas, justamente o caminho que estão tomando estas tecnologias
digitais em rede (vide a "Web 2.0").

Não tenho nada contra a Intel. Acho que ela tem um importante papel na
difusão do WiMAX, fundamental para a inclusão digital. Mas o que ela está
fazendo com o ClassMate é mau desenvolvimento que pode torpedear a inclusão
digital no Brasil e no mundo.

A Intel pegou carona no hype OLPC, desenvolveu às pressas um laptop
convencional, fez parceria com uma empresa brasileira que já tinha material
didático convencional, deslocou às pressas marqueteiros para dar "suporte"
convencional, e diz que tem um projeto educacional pronto. Bullshit!

Essa visão marqueteira pode contaminar a avaliação de governos (municipais,
estaduais e nacionais) e levar a grandes compras de seu equipamento
convencional. O uso convencional desse equipamento convencional
provavelmente não vai melhorar o aprendizado nem resolver os problemas
anti-humanísticos da escola industrial. Vai dar argumento para os que dizem
que um laptop por criança é desperdício de dinheiro, quando indicadores
convencionais mostrarem que não houve melhora no desempenho escolar.

O convencionalismo da pedagogia Intel impregna todo o seu projeto, como o
recurso de travar o micro de quem não está "prestando atenção ao professor".
Claro! Transportam um modelo de aula chatíssimo e autoritário para o laptop,
então precisam de um mecanismo para obrigar a gurizada a prestar atenção.

Se a Intel levasse a sério a inovação educativa, teria tratado bem a Mary
Lou Jepsen quando ela foi funcionária da empresa. Quem tem uma "gênia"
dos displays
em seus quadros e perde-a, perde também a liderança tecnológica e precisa de
marqueteiros para empurrar ao terceiro mundo sistemas obsoletos para os
novos tempos.

A última coisa de que precisamos é de tecnologia do século 21 para
reproduzir estruturas do século 19.

Abraços!

-- 
nome: "José Antonio Meira da Rocha"  tratamento: "Prof. MS."
atividade: "Pesquisa e aprendizado em mídias digitais"
googletalk: email: MSN: joseantoniorocha at gmail.com
ICQ: 658222 Skype: "meiradarocha_jor"
veículos: [ http://meiradarocha.jor.br http://olpcitizen.blogspot.com ]
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