[OLPC Brasil] Manifesto: por uma tradução bem feita
Paulo Drummond
ptdrumm at terra.com.br
Fri Apr 20 23:37:30 EDT 2007
Salve, Paulo!
Da minha parte, agradeço, e concordo com quase tudo. Concordo
principalmente com as suas queixas sobre as asneiras e os termos
estapafúrdios que o hábito do uso do Windows traduzido impôs a uma
geração inteira. Contudo, não acho que seja só culpa dos tradutores
iniciais daquele famigerado sistema. A coisa vem de bem mais longe.
Lembro-me que a palavra arquivo já era usada normalmente quando eu
dei os meus primeiros passos com um PDP-11. Soube mais tarde que em
espanhol era assim, e pronto. O símbolo @, por exemplo, é traduzido
como arroba e é outra importação do espanhol. Sabemos que @ quer
dizer "at" (uma preoposição traduzível como 'a' ou 'em'). Felizmente,
os meios científicos estão tentando corrigir isso, e muitos
indivíduos já publicam a forma literal do seu endereço eletrônico
como fulano_em_domínio.com. Portanto, há um esforço em curso.
Penso que um dos maiores desafios para os tradutores técnicos é
conseguir a eficiência ligüística do original, sem tornar a
compreensão do significado uma dor de cabeça. Não é tarefa simples.
Não raro, o tradutor não sabe nem bem o português, o que, nmmo,
explica os jargões descaracterizantes e indecifráveis para o leitor
comum.
grande abraço,
Paulo
On Apr 20, 2007, at 2:32 PM, Paulo Blikstein wrote:
> Caros companheiros da lista,
>
> Tenho acompanhado a discussão sobre a tradução na lista, e acho um
> ponto
> fundamental e importante. Parabéns aos pioneiros da tradução do
> site e das
> aplicações!
>
> A qualidade do trabalho desses colegas é excelente, mas essa não é,
> infelizmente, a regra no Brasil. A tradução "tradicional" de
> software no
> Brasil é uma autêntica tragédia. Por conta de tradutores descuidados
> (principalmente da Microsoft), acabamos tendo solidificadas essas
> traduções
> medonhas - por exemplo, "Salvar" é uma tradução quase literal do
> inglês
> "Save", mas não quer dizer nada em português. "Gravar" seria muito
> mais
> adequado. Os exemplos são inúmeros: 'deletar', 'propriedades',
> 'customizar'
> etc. Além disso, há várias inconsistência de estilo e registro -
> por vezes,
> o Windows trata o usuário por "você", outras vezes ele usa um estilo
> impessoal, ou ainda mistura voz ativa e voz passiva. Uma bagunça
> danada.
>
> O mesmo problema acontece com os ícones: o ícone de "abrir
> arquivo", aquela
> pasta bege, é um item de papelaria muito comum nos EUA, mas
> inexistente no
> Brasil. Uma lixeira na Tailândia não parece em nada com aquele
> objeto do
> Windows ou do Macintosh. Porque a Microsoft nunca teve a idéia de
> adaptar os
> ícones à realidade de outros países? (Para mais detalhes sobre a
> tradução de
> interfaces de usuário, veja -
> http://www.blikstein.com/courses/systems/PauloBlikstein-SAS-Final%
> 20Paper.pd
> f).
>
> Enfim, precisamos tomar muito cuidado com a tradução de texto e de
> ícones do
> XO - não queremos nossas crianças, principalmente as em idade de
> alfabetização, falando e escrevendo palavras inventadas pelos
> tradutores da
> Microsoft há vinte anos atrás. O que estiver errado, mesmo que
> estabelecido
> no mundo da informática, temos que batalhar para mudar, refazer
> certo de uma
> vez por todas. Abaixo "Salvar" e "Customizar", abaixo os anglicismos
> desnecessários, abaixo os ícones que não dizem nada da realidade
> brasileira.
> Precisamos de lingüistas profissionais envolvidos no trabalho, e
> necessitamos adaptar a tradução aos diferentes "dialetos" do
> Brasil: no país
> do Paulo Freire, vamos impor o vocabulário de uma criança de São
> Paulo a uma
> criança de Angicos?
>
> Defensores da boa tradução de todos os países, uni-vos!
>
> Abraços
>
> Paulo Blikstein
> www.blikstein.com/paulo
> PhD. Candidate
> Center for Connected Learning and Computer-Based Modeling
> Northwestern University
>
>
>
> _______________________________________________
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