[OLPC Brasil] Manifesto: por uma tradução bem feita

Paulo Blikstein paulob at alum.mit.edu
Fri Apr 20 13:32:27 EDT 2007


Caros companheiros da lista,

Tenho acompanhado a discussão sobre a tradução na lista, e acho um ponto
fundamental e importante. Parabéns aos pioneiros da tradução do site e das
aplicações!

A qualidade do trabalho desses colegas é excelente, mas essa não é,
infelizmente, a regra no Brasil. A tradução "tradicional" de software no
Brasil é uma autêntica tragédia. Por conta de tradutores descuidados
(principalmente da Microsoft), acabamos tendo solidificadas essas traduções
medonhas - por exemplo, "Salvar" é uma tradução quase literal do inglês
"Save", mas não quer dizer nada em português. "Gravar" seria muito mais
adequado. Os exemplos são inúmeros: 'deletar', 'propriedades', 'customizar'
etc. Além disso, há várias inconsistência de estilo e registro - por vezes,
o Windows trata o usuário por "você", outras vezes ele usa um estilo
impessoal, ou ainda mistura voz ativa e voz passiva. Uma bagunça danada.

O mesmo problema acontece com os ícones: o ícone de "abrir arquivo", aquela
pasta bege, é um item de papelaria muito comum nos EUA, mas inexistente no
Brasil. Uma lixeira na Tailândia não parece em nada com aquele objeto do
Windows ou do Macintosh. Porque a Microsoft nunca teve a idéia de adaptar os
ícones à realidade de outros países? (Para mais detalhes sobre a tradução de
interfaces de usuário, veja -
http://www.blikstein.com/courses/systems/PauloBlikstein-SAS-Final%20Paper.pd
f). 

Enfim, precisamos tomar muito cuidado com a tradução de texto e de ícones do
XO - não queremos nossas crianças, principalmente as em idade de
alfabetização, falando e escrevendo palavras inventadas pelos tradutores da
Microsoft há vinte anos atrás. O que estiver errado, mesmo que estabelecido
no mundo da informática, temos que batalhar para mudar, refazer certo de uma
vez por todas. Abaixo "Salvar" e "Customizar", abaixo os anglicismos
desnecessários, abaixo os ícones que não dizem nada da realidade brasileira.
Precisamos de lingüistas profissionais envolvidos no trabalho, e
necessitamos adaptar a tradução aos diferentes "dialetos" do Brasil: no país
do Paulo Freire, vamos impor o vocabulário de uma criança de São Paulo a uma
criança de Angicos?

Defensores da boa tradução de todos os países, uni-vos!

Abraços

Paulo Blikstein
www.blikstein.com/paulo  
PhD. Candidate
Center for Connected Learning and Computer-Based Modeling
Northwestern University





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