Re: [OLPC Brasil] Livro didático: a situação virou completamente
Tribuna do Rock.com - Frederico
frederico at tribunadorock.com
Tue Dec 26 19:19:22 EST 2006
O XO é uma ferramenta dentro de uma nova concepção cultural de pedagógica,
as pessoas tem que parar de entender o laptop como um brinquedo para
crianças pobres. Já li cada comentário reacionário a esse respeito, do tipo
que as crianças irão vender o laptop no sinaleiro para comprar comida, ou
que irão roubar e etc.
Esse pensamento reacionário pode ser muito bem utilizado pelo mercado
educacional, essa corja deve estar se contorcendo com a notícia do laptop a
U$100.
E fico muito feliz que o mercado educacional brasileiro vai ir pro saco,
esse vermes em nada ajudaram a cultura e a educação, criaram verdadeiras
creches para adolescente e adultos, seu ensino é descartável e inútil.
Contra essa corja não deve haver vacilação, vão ter que se conformar em não
lucrar mais com a educação e com o ensino.
A questão do mecenato e do custo das pesquisas em nada será afetada, já que
essa corja nunca investiu em pesquisa, que sempre liberou a verba foi o
Estado mesmo.
Somada a produção em massa de laptops populares outra questão entrará no
debate, a que se refere aos direitos autorias e a produção cultural e
intelectual.
Segue umas observações:
(i)a internet muda drasticamente a relação de produção, reprodução e
distribuição da informação e da cultura, a idéia de livro como mero registro
de pensamento oriundo dos tempos antigos é superada na idade média com a
criação do codex, um registro físico de pensamento organizado com índice e
encardenado, que por sua vez vira sinônimo de livro com a criação da
imprensa, que agora começa a ser superada pela internet, onde a informação
não necessita mais de um suporte físico para seu armazenamento, onde sua
reprodução vira sinônimo de acesso, onde o livro vira sinônimo de trabalho
intelectual criativo sistematizado como unidade, ou seja, o livro se
transformou em sinônimo de unidade de conhecimento frente à informação
fragmentada e incompleta que circula de forma viral no meio virtual, é dessa
forma que iremos nos referir aos livros futuramente, iremos nos referir pela
a sua unidade e organização;
(ii)o problema do direito autoral é seu uso patrimonial que é usurpado pelos
editores e distribuidores em detrimento ao autor, no Brasil quem mais viola
o direito autoral são os editores e distribuidores, a ação de rapina dessa
turma impede o acesso, mas, com a internet essa ação é prejudicada, pois o
suporte físico permitia a rapina, não é necessário no meio virtual;
(iii)deve se estar atento ao uso da palavra revolução da informação, pois
revolução não deve ser entendida como ruptura ou desenvolvimento tecnológico
acelerado, deve sim, ser entendida como a tomada dos meios de produção
intelectual e cultural pelo povo, através da produção de cultura e
conhecimento feita pelo próprio povo, sem intermediários – editores e
distribuidores, também implica dizer que a massificação da informação e da
cultura deve seguir uma perspectiva popular e de inclusão, caminho esse que
o MINC tenta ensaiar, mas ainda é muito débil em suas ações, o que demonstra
que esse processo deve ser público porque a população está tomando pra sí e
não porque o Estado está fazendo como uma forma de política pública, o que
também é válido, mas débil como se mostrou, além de ser um processo que
estará sujeito a conjuntura política institucional, além de, esse mesmo
processo ficar a mercê de ações políticas oportunistas e reformistas que tem
caráter reacionário, mas disfarçado;
(iv)a abolição da propriedade intelectual não tem nada de revolucionário e
só dará mais poder aos distribuidores e editores, pois ficarão livre pra
fazer o que quiserem, temos é que mudar esse conceito de propriedade, que
deve deixar de ser pratrimonialista pra se tornar popular, público, coletivo
e revolucionário, conceito ligado a liberdade de expressão e a personalidade
humana;
(v)a discussão dos direitos autorais deve estar ligada a discussão sobre a
produção, reprodução e distribuição de informação e cultura, também deve
estar ligada a destruição da hegemonia cultural, política e intelectual
vigente, significa dizer que devemos procurar um sujeito popular de
conhecimento;
(vi)e mais importante, essa discussão deve ser travada com o povão, para não
deixarmos que esse debate aprofunde a distância entre o povo e os
intelectuais, temos que ver o exemplo da Editora Civilização Brasileira que
publicou os Cadernos do Povo Brasileiro na década de 60, trazendo o debate
sobre as reformas de base para toda a sociedade, uma experiência pioneira;
(vii)e mais importante ainda, temos um fato político que mudará a relação da
massa com o conhecimento e com a informática, esse fato são os laptops à U$
100, que o governo brasileiro está implementando a idéia, mas não como uma
forma de inclusão digital, mas como um meio de se economizar os gastos na
educação, temos é que influenciar esse processo e ampliar o alcance desse
computador a mais pessoas, em especial a classe popular, pois esta briga
está sendo perdida de propósito pelo governo que não quer contrariar
interesses contrários a inclusão digital e a democratização do acesso ao
conhecimento.
Frederico.
Em 26/12/06, Paulo Drummond <ptdrumm at terra.com.br> escreveu:
>
>
> On Dec 26, 2006, at 8:25 PM, José Antonio wrote:
>
> On 12/26/06, Paulo Drummond <ptdrumm at terra.com.br> wrote:
> >
> >
> > On Dec 25, 2006, at 9:32 PM, José Antonio wrote:
> >
> > A situação está zerada. A grandes editoras de livros didáticos estão em
> > um modelo de negócio em obsolescência, que poderá estar morto em 2016.
> > Qualquer professor esperto vai produzir material didático a partir de AGORA
> > (traduzindo suas aulas para um projeto Squeak, por exemplo). Se o
> > projeto for bom, será incluído em 5 milhões de máquinas iniciais do projeto
> > OLPC.
> >
> >
> > Traduzir suas aulas para o Squeak????? Isso é uma temeridade!!!
> >
> > O Squeak / eToys é um ambiente de criação de mídia. A criança cria
> > modelos a partir de conceitos e constrói seu conhecimento a partir do que
> > ela produz, considerando uma interdisciplinaridade pouco encontrada em
> > livros didáticos, e de transposição impraticável.
> >
>
> Interessante! Mas digamos que eu seja um professor da primeira à oitava
> série, com o programa atual, digamos, "conteudista". E eu tenho em mãos o
> laptop. As crianças já estão usando e sabem operar mais que eu.
>
>
> Nmmo, será um erro crasso usar professores com formação convencional como
> mentores de aulas com o laptop. No meu entender, ou o currículo muda para
> adaptar-se aos novos tempos, e o professor é retreinado de acordo, ou o
> projeto corre sérios riscos de não dar certo.
>
>
> O que eu faço agora? Squeak pode ajudar?
>
>
> O professor terá que ser capacitado a usar um padrão curricular diferente
> para aulas com laptop. O Squeak pode ajudar enormemente, desde que o
> professor compreenda bem que ele deixou de ser o centro do conhecimento. A
> posição de "Magister" absoluto morre.
>
> Sendo Squeak um ambiente de criação, crianças e professores trabalham em
> conjunto, lado-a-lado, modelando situações que retratam - em linguagem
> multimediática e divertida - a prática de conceitos de matemática e ciência.
>
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