Re: [OLPC Brasil] Informações sobre projeto Plurall foram sonegadas pelo G1
José Antonio
joseantoniorocha at gmail.com
Tue Dec 12 15:17:59 EST 2006
On 12/12/06, Marcelo Medeiros <marcelo at rits.org.br> wrote:
>
> Pessoas,
> já que muitos estão enviando para a lista diferentes visões sobre a
> validade ou não do OLPC e suas alternativas, envio mais uma. É um texto
> escrito pelo Carlos Afonso, diretor de planejamento da Rits (Rede de
> Informações para o Terceiro Setor) e um dos membros do Comitê Gestor da
> Internet no Brasil (CGI.br). A idéia dele é que o dinheiro gasto pelo
> governo com o OLPC poderia ser melhor investido em telecentros. O que vocês
> acham?
>
São questionamentos importantes em que temos que pensar.
* Um laptop por criança... no Maine?*
>
> *Carlos A. Afonso**
>
> *Nota do autor: esta é uma revisão de uma versão anterior, que continha
> alguns erros de cálculo.*
>
> O Brasil não conseguiu ainda estabelecer uma estratégia unificadora de
> políticas de alavancagem das tecnologias de informação e comunicação (TICs)
> para o desenvolvimento humano. Em parte é herança de governos anteriores,
> mas o fato é que governos nos seus três níveis continuam a dedicar-se a
> projetos pontuais, descoordenados, com motivações diversas, e na maioria das
> vezes esquecendo dos números do país: quase todas escolas públicas
> desconectadas, os milhões de famílias em situação de pobreza que estão "fora
> do mercado" e portanto condenadas à desconexão eterna, tal como estão mais
> de 2.400 municípios brasileiros onde sequer se pode utilizar um telefone
> celular.
>
A aplicação do OLPC necessita conexão de todas as escolas. É algo que nós,
do Brasil, devemos fazer, não o OLPC. Não é coisa de outro mundo fazer isto.
> Nessa situação de ausência de referências, quando não há um plano
> estratégico, aparecem as propostas mirabolantes, algumas oferecendo
> maravilhas, como os espelhinhos dos colonizadores mostrados às populações
> originárias do que veio a ser chamado de América, nas invasões iniciadas há
> seis séculos, que a cultura dominante prefere chamar de "descobrimento".
> Uma dessas propostas é uma variação sofisticada do espelhinho, um
> brinquedo educativo, inventado em um laboratório interplanetário (tal a
> distância que o separa da realidade dos povos do Sul) chamado Medialab, do
> MIT (Massachusetts Institute of Technology), para "salvar as nossas crianças
> pobres" com uma espécie de máquina de educar.
>
Visão do autor, completamente tendenciosa e deturpada, que não corresponde
ao background pedagógico do projeto. O autor já começa de má vontade, em vez
de estudar a possibilidade. Se ele começa assim, tudo daqui por diante pode
estar deturpado.
> É um laptop básico, sem disco rígido, dotado de um carregador de bateria a
> manivela. O idealizador do empreendimento, em sua justificativa, mostra os
> benefícios que os laptops trouxeram para crianças do Maine (Maine, nos EUA!)
> e como eles podem ser usados como lâmpadas em um vilarejo sem luz do
> Camboja! Para iluminar as casas de nossas crianças pobres com "lâmpadas" de
> US$ 100 custeadas pelos contribuintes dos países "em desenvolvimento", ele
> até criou uma fundação, a One Laptop per Child (OLPC).
>
Ignorou os avanços tecnológicos do OLPC, o mais importante deles, a economia
de energia.
> Vamos a alguns números: o INEP, do Ministério da Educação, registrou 56,5
> milhões de matrículas na educação básica brasileira em 2005, na qual o
> ensino fundamental correspondia a 33,5 milhões de crianças, sendo 27,7
> milhões em áreas urbanas e 5,8 milhões em áreas rurais.
>
> Supondo que o alvo do projeto OLPC é o ensino fundamental, estamos falando
> de mais de 30 milhões de laptops – a US$ 100 cada um, seriam mais de US$ 3
> bilhões – ao câmbio da data em que escrevo, aproximadamente R$ 6,6 bilhões
> (para incluir também o ensino médio, seriam mais nove milhões de
> estudantes). Os defensores da idéia sugerem que se inicie o projeto pela
> compra de um milhão de laptops (ao custo total de US$ 100 milhões) – um
> número "mágico" que tem sido o mesmo para Índia, Argentina, Nigéria,
> Brasil... em mais uma demostração da distância que aquele laboratório
> interplanetário está das nossas realidades. Se você, leitora, desconfia de
> todo projeto educacional que comece pela compra de equipamento em grande
> escala, você não está sozinha.
>
A alternativa a compras em grande escala seria o quê? Aparelhar 34 milhões
de criaças aos poucos? O projeto de livros didáticos não é uma compra em
grande escala?
> Seria uma "fase piloto" – já que, no caso do Brasil, o brinquedo chegaria
> a apenas 3,3% das crianças do ensino fundamental. Vamos supor também, é
> claro, que essa fase piloto passe em todos os testes – conectividade,
> manutenção e durabilidade, capacitação dos professores, preparação e
> distribuição eficaz dos conteúdos via sistemas online cobrindo todas as
> áreas do experimento, comprovação de efeitos significativamente positivos no
> aprendizado em comparação com outras alternativas de inclusão digital nas
> escolas etc etc. Para isso, antes de sequer negociar a compra dos laptops, o
> projeto já teria que ter sido iniciado no país. Afinal, planejar e garantir
> a conectividade, criar um sistema de manutenção, organizar o sistema de
> distribuição e acompanhamento, capacitar os professores para não serem
> vítimas de mais um brinquedo educativo, montar os conteúdos orientados à
> nova plataforma etc, etc... Tudo isso leva muito tempo, mesmo com um projeto
> bem planejado e com recursos já aprovados (o que não é, de nenhum modo, o
> caso).
>
Nenhum problema em fazer isto. Novamente, é tarefa do País, não do OLPC. Já
existe muita gente se mexendo no país.
> No caso da conectividade, Negroponte parece imaginar que países do Sul são
> como Cambridge (ou o Maine), em que a conectividade à Internet está sempre
> logo ali, quase que em qualquer luqar, e basta montar uma rede em malha*
> [1]* com os laptops que rapidamente essa rede achará um ponto de conexão
> com a Internet a baixo custo e com velocidade suficiente. Como não estamos
> no Maine, Lee Felsenstein confronta a fantasia com a dura realidade: "Redes
> em malha dependem da maioria dos enlaces estarem em operação sempre que
> houver necessidade de conectividade. Estamos assumindo que todos os laptops
> estarão em funcionamento, especialmente lembrando do esforço considerável
> para manter a bateria carregada? É muito mais provável que os laptops terão
> conectividade somente em bairros de cidades onde há energia elétrica
> confiável e onde há banda larga disponível via acesso sem fio."*[2]*
>
Nenhum problema, em se implantando telecentros comunitário, que já existem
em muitos lugares.
> A pergunta inevitável: que outras iniciativas no mesmo valor, de US$ 3
> bilhões, poderiam ser formuladas como estratégia para a inclusão digital do
> ensino fundamental?
>
> Um exemplo numérico para situar a escala. Admitamos um projeto estratégico
> para conectar 30% das escolas públicas (ensino fundamental e ensino médio)
> em áreas de menor IDH, para instalar e manter em cada uma um telecentro
> educacional conectado permanentemente à Internet, com 10-40 estações de
> trabalho cada (em função do tamanho de cada escola). Baseado em plataforma
> de software livre, e estimando um custo anual de operação e manutenção de R$
> 20-30 mil por escola (incluindo sistemas de apoio online, capacitação,
> monitoramento, logística etc.), e estimando o dobro disso para o primeiro
> ano (custo inicial de implantação), o projeto todo, incluindo custos de
> manutenção por três anos, custaria, ao câmbio de agora, US$ 3 bilhões.
>
É importantíssimo fazermos continhas. Olhem só:
*Informatização escolar*
*Custos gerais*
Acesso banda larga 2Gb R$ 100,00 Base: Virtua comercial Custo total de
acesso 2Gb 5 anos R$ 1.020.000.000,00
Quantidade de escolas 170000
Quantidade de alunos do fundamental 34000000
Quantidade de servidores 170000
Custo de um servidor R$ 2.500,00
Horas de servidor por 5 anos 6570 24x365x5 Custo do quilowatt-hora
R$ 0,48 Rio
Grande do Sul, com impostos Gasto de energia com um servidor R$ 3.153,60
Gasto de energia total R$ 536.112.000,00
*Total com acesso e servidores* *R$ 1.981.112.000,00* Por cinco anos
*Micro desktop em telecentro*
Quantidade de micros por escola 40
Quantidade total de micros 6800000
Quantidade de horas por micro 9600 8x20x12x5 Quantidade total de horas
65280000000
Gasto de energia por micro 150 Watts Energia por 5 anos 1440
Quilowatts Custo
do quilowatt-hora R$ 0,48
Custo total de energia por micro R$ 691,20
Custo de micro desktop R$ 800,00
Custo total de uso do micro desktop R$ 1.491,20
*Total de gastos com telecentro* *R$ 12.121.272.000,00* Incluindo
servidores Total de horas por aluno/semana 8
Custo da hora por aluno R$ 0,19
*Um laptop por aluno*
Quantidade de laptops 34000000
Quantidade de horas por micro 21900 12x365x5 Quantidade total de horas
744600000000
Custo do laptop em dólar $200,00
Cotação do dólar R$ 2,15
Custo do laptop em reais R$ 430,00
*Total gastos com laptops* *R$ 16.601.112.000,00* Incluindo servidores Total
de horas por aluno/semana 84
Custo da hora por aluno R$ 0,02
São números grosseiros, mas já dá pra se ter uma idéia do que é mais
vantajoso...
Será que errei em algum ponto?
> Os valores da simulação acima consideram que na maioria dos casos os
> telecentros poderão aproveitar espaços e infra-estrutura já existentes nas
> escolas. Nosso exemplo, baseado em custos reais com projetos de telecentros
> em várias regiões do Brasil, mostra que os recursos que seriam gastos no
> brinquedo educativo de Negroponte para que este chegue a todas as crianças
> do ensino fundamental dariam para instalar e manter, com qualidade,
> telecentros bem conectados em mais de 60 mil escolas do ensino fundamental
> do país por três anos. Ou pelo menos instalar um telecentro conectado à
> Internet em todas as escolas públicas do país.
>
> Note que não estou sugerindo que se gaste US$ 3 bilhões desta forma –
> apenas uso o exemplo acima para compreender a magnitude do problema.
>
> Os defensores do brinquedo educativo insistem que a escola pode estar
> conectada e ter um telecentro, mas sem o laptop elas não terão acesso ao
> recurso quando forem para casa. Esse é um argumento relevante de qualquer
> projeto de inclusão digital nas escolas. Mas a solução passa por gastar US$
> 3 bilhões em laptops?
>
Pensemos em uma alternativa para o caso do Brasil, lembrando que temos quase
> US$ 3 bilhões "encalhados" no Tesouro, de um fundo para universalização de
> acesso (o triste Fust), que cresce à razão de cerca de pelo menos US$ 250
> milhões por ano.
>
> Um computador conectado via rede de malha ou a um ponto de acesso (via uma
> rede comunitária onde não houver conectividade adequada a preço razoável –
> parte de um projeto nacional abrangente de inclusão digital) fica em casa e
> pode servir às crianças e à família dia e noite – mesmo quando a criança
> está na escola, alguém da família poderá utilizar o recurso. E em casa o
> equipamento estará menos sujeito a riscos óbvios (quebra, roubo). Vamos
> supor que cada família possa ter um computador (completo, incluindo
> funcionalidade para conexão por rádio digital, funcionando com software
> livre) cujo custo é hoje da ordem de US$ 300 – a maioria das famílias de
> menos recursos, lembremos, tem mais de um filho, e esse computador servirá
> às crianças e a outros membros da família para acesso a todos os outros
> serviços via internet (acesso a serviços de e-governo, consulta a
> informações, e-mail etc.).
>
Pode ser. É uma solução a se pensar.
> Se pensarmos em um computador por família, lembrando que, de acordo com
> pesquisas de nosso Comitê Gestor da Internet, mais de 30% das famílias
> brasileiras não podem comprar um computador qualquer que seja seu preço, e
> imaginando que estamos falando de aproximadamente oito a dez milhões de
> famílias correspondentes às 33,5 milhões de crianças no ensino fundamental,
> o custo total de equipamento em casa seria de pouco mais de US$ 2,5 bilhões,
> ou cerca de R$ 5,5 bilhões. Imaginando um subsídio progressivo em que 30%
> receberiam um computador a custo zero para a família, o valor do subsídio
> para as famílias mais pobres seria da ordem de US$ 720 milhões – algo em
> torno de R$ 1,5 bilhões para garantir um computador para todas as famílias
> que não podem gastar um centavo nisso.
>
> Já há programas implantados de financiamento diferenciado de computadores
> que, se aprofundados, incluindo o subsídio progressivo, permitiriam que
> todas as famílias tenham o equipamento em casa. Com uma vantagem adicional
> imensa em relação ao laptop da OLPC: famílias permanentemente conectadas com
> equipamento em casa.
>
> Por fim, se pensarmos em um programa estratégico que assegure telecentros
> em todas as escolas, bem conectados à Internet (o que implica em um plano
> nacional efetivo de conectividade para todos os municípios, sem esperar o
> "mercado"), combinados com um programa de acesso que garanta um computador
> conectado para cada família, estamos falando também de um grande programa de
> alavancagem industrial do setor de informática no país.
>
Ah, as indústrias do País... como na reserva de mercado, lembram?
Desenvolveu alguma coisa no Brasil? Por que agora, com concorrência, isso
aconteceria? Que vantagem a gente teria? Empregos, é eu não, pois
computadores são montados por robôs.
> Inconcebível seria uma política pública que não contemplasse tecnologias
> abertas e software livre – e isso também significaria uma crucial
> alavancagem do desenvolvimento de software no país.
>
FOSS (free and open source software) está no cerne do OLPC.
> Mas, de novo, o que fizemos acima foi apenas um excercício que, bem mais
> refinado, seria parte de outra visão – a de um plano estratégico de
> alavancagem das TICs para o desenvolvimento humano, que mencionamos no
> início deste texto. Sem essa visão sacramentada em uma política pública
> nacional que envolva a comunidade local (prefeituras, entidades civis e
> empreendores locais), não podemos aceitar que se decida em bastidores uma
> intervenção com um custo elevado e que pode muito mais prejudicar do que
> auxiliar mesmo quem puder receber o laptop.
>
> Nesta situação, pergunto: pelo menos no caso do Brasil, a quem realmente
> beneficia o brinquedo educativo de Negroponte? Quem sabe, no futuro,
> cheguemos a um grau de desenvolvimento em que as famílias poderão oferecer a
> suas crianças os melhores instrumentos de aprendizado, e que cada escola
> possa efetivamente garantir que cada estudante tenha sua própria estação de
> trabalho – mas até lá o laptop de Negroponte será apenas história...
>
> *1*. Computadores em uma rede de malha (*mesh network*) funcionam como
> elementos de interconexão, criando vários caminhos de conexão de qualquer
> dos computadores da rede até um ou mais pontos de acesso a outra rede (por
> exemplo, a Internet).
>
> *2*. Lee Felsenstein, *Problems with the OLPD laptop*, 10-nov-2005,
> http://fonly.typepad.com/fonlyblog/2005/11/problems_with_t.html.
> **
>
> *
> * Carlos A. Afonso é diretor de Planejamento e Estratégias da Rits.*
>
> *** Texto atualizado em 8 de novembro de 2006.*
>
--
nome: "José Antonio Meira da Rocha" tratamento: "Prof. MS."
atividade: "Consultoria e treinamento em mídia impressa e online"
googletalk: email: joseantoniorocha at gmail.com
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