[OLPC Brasil] Encore vai fabricar no Brasil

Jaime Balbino jaimebalb at gmail.com
Fri Jan 19 08:32:27 EST 2007


A Encore, indiana que faz um micro de mão voltado para educação e que
tem 60 deles em avaliação no Brasi, junto com os XOs, decidiu
fabricá-los no Brasil e incluiu no pacote uma parceria com uma
desenvolvedora de softwares educacionais de Portugal.

Ela irá investir 300 milhões de reais em uma fábrica. O custo final
hoje de cada aparelho seu, que é semelhante a um PDA ou palmtop
"gigante", é de 160 dólares.

Essa com certeza é uma decisão estratégica importante dentro do modelo
proprietário de desenvolvimento. Provavelmente a Encore deseja
fornecer pacotes completos e centralizar o desenvolvimento do material
pedagógico e das metodologias, a exemplo do que já ocorre com os
"sistemas prontos", tipo Positivo e Anglo, vendidos a escolas
particulares e secretarias de educação de estados e municípios.

Pode até haver uma pequena abertura "a lá" Microsoft, isto é,
permissão para os professores e governos participarem, mas num esquema
de "parceria" que preserve a propriedade da empresa. Assim criam uma
aparente rivalidade com o modelo completamente aberto e quase sem
patentes da OLPC.

Esperava uma notícia deste tipo, mas confesso que achava que seria da
Quanta, anunciando uma fábrica aqui. Afinal, numa conta simples, 5
milhões de laptops x 150 dólares dá 750 milhões de dólares, 2,5 vezes
mais do que o necessário para a montagem da fábrica da Encore (a
planta da Encore prevê uma produção de 2 milhões de máquinas, mas acho
que uma produção de 5 milhões não deve significar um investimento
muito maior).

A Positivo, maior vendedora de sistemas, softwares e soluções em
tecnologia da educação do Brasil, também deve botar "as barbas de
molho" e rever sua estratégia com o Classmate da Intel. A briga pelo
mercado governamental e de ensino particular nas américas vai ser
boa...

Ah.. A Encore também planeja fábricas na Índia (sua sede) e na África
do Sul. Isso eu já acho um factóide, pois o mercado mundial não
suporta uma descentralização tão grande da produção, principalmente
num nicho que tende a se tornar tão competitivo e que se fundamenta na
massificação e no baixo custo. Celulares e laptops de última geração
podem ser vendidos a preços altos "de lançamento", fazendo com que os
custos de pesquisa e produção sejam amortizados em um período mais
curto, antes de sua "popularização" - leia-se: "saturação do produto
entre os consumidores de alta renda, obrigando a sua oferta aqueles de
renda mais baixa".

Também com a fabricação de partes essenciais de altíssima complexidade
(como processadores, memórias e monitores) concentrada em pouquíssimos
lugares do mundo (menos de meia dúzia), é difícil imaginar uma
logística para "alimentar" várias linhas de montagem e que ainda
consiga competir com o conceito capitalista global de centralização da
produção. A tendência de aumento considerável no valor final do
produto, além de diminuir capacidade de inovação nos modelos futuros,
pelo custo e riscos da mexer nos processos/rotinas da linha de
montagem.

É com certeza uma estratégia agressiva que demonstra que o mercado
potencial "descoberto" pela OLPC é muito grande. No futuro, podemos
ter várias pequenas empresa e multinacionais oferecendo soluções, ao
mesmo tempo que corremos o risco de monópolio e cartéis. O
barateamento dos componentes e a definição de padrões técnicos e
pedagógicos para o hardware e aplicativos irá definir o formato final
deste campo, em alguns anos.

Notícia original no BR-Linux:
http://www.br-linux.org/linux/brasil-recebe-investimento-de-us300-mi-para-fabricar-pcs

-- 
Jaime Balbino Gonçalves da Silva
Designer Instrucional e Consultor em sistemas de ensino
Gestão, automação e adaptação em EAD
Pedagogo e Técnico em Eletrônica
Campinas, SP - Brasil
jaimebalb at gmail.com


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