[OLPC Brasil] Recortes pedagógic os

Sintian Schmidt sschmidt at caxias.rs.gov.br
Tue Dec 26 19:38:57 EST 2006


Sou professora e trabalho com Informática Educativa. Estou interessada no projeto OLPC 
e preocupada com as questões pedagógicas relacionadas ao seu uso, por isso fiz 
alguns ‘recortes’ das últimas mensagens, destacando e comentando alguns pontos de 
vista:

:: 1 :: Proposta pedagógica

É necessário clareza da proposta de uso pedagógico do computador. Ele será uma máquina 
de ensinar ou de aprender? Papert deixa este ponto claro em sua bibliografia.

:: 2 :: Papel do professor

Qual é a concepção que os professores têm de ensino e de aprendizagem?
Que mudanças (pedagógicas, não físicas, e de gestão) serão necessárias nas redes de 
ensino para receber o laptop?
Os professores receberão capacitação? Não apenas voltada para o uso do equipamento, 
mas em como torná-lo um recurso pedagógico.
Qual o papel do professor no processo de construção do conhecimento? Se ele acredita 
ser o ‘detentor do saber’ e que ‘ensinar é transmitir conhecimento’, o laptop se 
tornará um ‘caderno moderno’ para os alunos registrarem as ‘informações adquiridas, ou 
ainda pior: ‘copiar e colar’.

:: 3 :: Uso da tecnologia

As crianças são muito rápidas em assimilar as novas tecnologias, e não terão nenhuma 
dificuldade em se apropriar do equipamento (as experiências realizadas já provam 
isso). Já os professores... (como bem disse o colega Jecel em uma mensagem anterior). 
Como vão encarar a possibilidade dos alunos saberem mais do que eles? É necessário 
assumir uma nova postura frente ao processo de ensino e o uso das TICs, e colocar em 
prática o que Piaget nos ensinou através do construtivismo.

Fico preocupada com afirmações do tipo “computadores que realmente contribuam para a 
construção de conhecimento”, pois não são as máquinas que vão proporcionar isso, mas 
sim a interação do sujeito com o objeto, e entendo aqui enquanto sujeitos tanto 
alunos, quanto professores – todos serão aprendizes, num processo cooperativo.

Quando a televisão e o vídeo chegaram às escolas através do projeto da TV Escola, 
ouvia-se muito que ‘agora tudo vai ser diferente’, ‘os problemas acabaram’, ‘todos vão 
aprender’. Cuidado! Não são os recursos tecnológicos que vão mudar a educação, mas uma 
postura diferenciada do seu uso no cotidiano escolar - e isto implica mudanças de 
paradigma.

:: 4 :: Currículo

E o currículo? Ele realmente precisa ser mais flexível. Enquanto os professores 
estiverem presos aos ‘conteúdos’, não conseguirão usar ferramentas de autoria como o 
Squeak. É preciso compreender a educação como um meio de construir conceitos, 
desenvolvendo habilidades e competências necessárias para dar conta dos conhecimentos 
necessários – como a alfabetização nas séries iniciais.

AH! Alguém já pensou nisto? Como será o processo de alfabetização através do uso de um 
computador pessoal?

:: 5 :: Recursos pedagógicos

No meu ponto de vista, é óbvio que outros recursos não devem ser desvinculados da 
educação. Lápis e papel continuarão sendo importantes, assim como atividades lúdicas e 
motoras – afinal não queremos formar ‘robozinhos’ na escola! Criança precisa brincar, 
se movimentar, cantar, dançar, manipular materiais diversos,... não apenas usar a 
tecnologia. O computador será apenas UM dos recursos disponíveis.

Se trabalhamos na perspectiva da autoria e da autonomia, é preciso investir na 
produção do conhecimento (pelos alunos e pelos professores). Por isso, acredito, que 
softwares livres de autoria são muito mais importantes no projeto do que a preocupação 
com livros didáticos. Eu, particularmente, não uso única e exclusivamente um livro 
didático há anos – eles são apenas um dos recursos. 

Quanto a internet, ela é importante, mas não é tudo. Como o colega Jaime apontou, uma 
intranet pode dar conta do recado, proporcionando “colaboração compartilhamento de 
informações e acesso a repositórios e bibliotecas multimedia na própria escola.” E se 
o conhecimento vai ser construído, nada mais lógico do que ser compartilhado (mesmo 
que somente dentro da escola). Mas é claro que devemos batalhar pelo acesso a 
internet, ok?

:: 5 :: Outras considerações

Termino esta mensagem dizendo que tenho consciência dos aspectos negativos que são 
levantados diariamente, mas que acredito neste projeto. Ele é possível e, no meu ponto 
de vista, pode provocar drásticas mudanças na educação. Estou interessada em ajudá-lo 
a dar certo, e estas são algumas contribuições que posso dar enquanto educadora.


Sintian Schmidt
http://bloguinfo.blogspot.com
Assessora Pedagógica de Informática Educativa
SMED - Secretaria Municipal da Educação 
Prefeitura Municipal de Caxias do Sul 
www.caxias.rs.gov.br/nidi


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